terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Poetas em defesa da olaria de Estremoz - 02


Augusto Molarinho de Andrade (1948-)
Contabilista, natural de Mina de S.Domingos (Mértola). Reside em Lisboa.
LIVROS PUBLICADOS: - Alentejano e Poeta - Ao Sabor da Fantasia (2015); 
- Alentejano e Poeta - O Sonho Continua - Palavras Com Verdade (2016).

Os barros do Alentejo…

Entre as profissões mais belas
Algumas saltam à vista
Pela beleza que expõem
Os barros feitos à mão
Não fogem à tradição
Nas imagens que compõem

Essas mãos que vão moldando
Peças raras, com carinho
São rudes, mas com talento
Pinturas com que as decoram
São imagens que devoram
Sua alma e pensamento

Apresentam os contrastes
Dum Alentejo profundo
Que tanta gente ignora
Pintam as belas ceifeiras
Os ranchos de mondadeiras
Profissões extintas agora

Vão usando a sua arte
Que pretendem preservar
Como sendo seu tesouro
O espólio do passado
Não deve ser apagado
Mas ofertado ao vindouro

São tantos, quase ignorados
Esses artistas que habitam
Nas terras do interior
Os oleiros, arte tão nobre
Num País de gente pobre
Mas de talento e valor

Cinzeiros, pratos e bilhas
Peças moldadas à mão
Enfeitiçam os de fora
Tudo feito com amor
Um simples monte, uma flor
Talento que neles mora

Mas por motivos diversos
Este ancestral património
Aos poucos desaparece
Há que pugnar com firmeza
Pra conservar tal riqueza
Porque essa arte merece

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Mercado das velharias



O sábado constitui um ponto alto na semana estremocense. Há mercado, o que se traduz em fluxos consideráveis de forasteiros que vêm até nós, o que tem reflexos muito positivos na economia local. Creio ser interessante analisar aqui alguns aspectos sociológicos do mercado das velharias.

Ainda as bancas estão a ser montadas e já se começam a fazer negócios. Os primeiros compradores são os próprios vendedores, que procuram peças para clientes seus. Por essa hora já por ali andam alguns frequentadores assíduos, como é o meu caso. Procuramos coisas que o imaginário que nos vai na alma nos incita a demandar.
No espaço do mercado das velharias coexistem três fraternidades: 1 - FRATERNIDADE DOS VENDEDORES - Engloba: antiquários, alfarrabistas, ourives, moedeiros, vendedores de roupa antiga, revendedores de recheios de casa, ferro-velhos, etc. Começam a conviver logo no mata-bicho, ainda antes de armarem as bancas. Alguns já se encontraram noutros locais, depois de sábado passado. De qualquer modo, começam logo ali a pôr a escrita em dia. Partem de seguida para a montagem e arrumação das bancas, o que alguns não fazem sozinhos ou porque têm sociedade ou trazem família. É vulgar ouvir exclamações do género: “Vamos lá ver o que é que isto hoje vai dar!”. Cada um deles à sua maneira, é mestre na técnica de vendas. Com ou sem regateio ou com atençõezinhas com os clientes, lá vão fazendo negócio. Cada um deles tem o seu tipo próprio de clientes, o qual procura fidelizar, já que lhe conhece os gostos. Aqueles que têm a melhor mercadoria costumam dizer: “Os meus clientes só aparecem a partir das 11 horas”. A meio da manhã vão todos molhar o bico e alguns continuam conversas interrompidas. Dali partem para dar o seu melhor até ao encerramento do mercado, lá pela uma da tarde. Então, depois de darem contas à vida, lá vão levantando as bancas e encaixotando a mercadoria. É uma tarefa cíclica que faz parte do ofício que uns sempre tiveram e outros tomaram como seu, para reforçarem as pensões de reforma. Alguns e até porque vão para longe, criaram o hábito de almoçar juntos, o que fazem num restaurante vizinho. Não sendo uma classe, os vendedores constituem uma fraternidade que se pode manifestar de maneiras inesperadas, como aconteceu recentemente no funeral dum vendedor em Évora, onde compareceram vendedores de todo o país. 2 - FRATERNIDADE DOS CLIENTES - Os compradores são dos mais diversos. Há aqueles que compram circunstancialmente algo de que gostaram e aqueles que são coleccionadores de objectos de determinada tipologia ou tema. Alguns são simples ajuntadores. Todavia, há aqueles que são recolectores e procuram reunir provas materiais ou imateriais de tempos idos, visando reconstruir essa época, o que muitas vezes conduz à publicação de estudos sobre o assunto. Daí que os coleccionadores constituam uma fonte de informação preciosa para os vendedores, dos quais recebem também ensinamentos. Os clientes constituem também uma fraternidade, pois partilham informação e dão conhecimento uns aos outros de peças que lhe possam interessar. Por vezes também convivem à mesa do café ou restaurante mais próximo. 3 - FRATERNIDADE DOS MIRONES - Há diversos tipos de mirones: - Os que vão visitar as bancas como quem visita um museu, ou não fosse o mercado de velharias um museu generalista desarrumado; - Os que passam pelas bancas para chamar a atenção de amigos ou familiares para determinados objectos. São vulgares conversas do tipo ”Lembras-te José, quando a gente tosquiava ovelhas com tesouras daquelas?” ou então “Sabes uma coisa neto? Quando eu era da tua idade não havia computadores. A gente escrevia numa lousa como aquela, com um lápis de pedra daqueles que ali estão. Era o que a gente tinha.”; - Aqueles que passam pelas bancas para perguntar o preço de determinado objecto, pois lá em casa têm um idêntico que poderão vender. Os vendedores já conhecem o estilo e geralmente respondem: “Esse objecto não tem preço. Não está à venda!”. Os mirones constituem igualmente uma fraternidade, caracterizada por não gastar um cêntimo e que ao serem muitos, podem dar a falsa impressão de o mercado estar forte, quando pode estar mesmo fraco em termos de compras e vendas. 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Salvemos a olaria! - III

Mestre Mário Lagartinho (1935-2016), o último oleiro de Estremoz.

Cursos de olaria? Não, obrigado!
No número 168 (12-1-2017) deste jornal, em crónica intitulada “Salvemos a olaria!”, após análise dos depoimentos prestados anteriormente por CME, ESRSI e IEFP, concluí que o IEFP assegura e custeia integralmente os Cursos de Olaria, sendo todavia necessário que uma entidade com legitimidade e sentido de responsabilidade para o fazer, como é o caso da CME, possa solicitar institucionalmente e com custo zero, a criação dos Cursos de Olaria ao IEFP. Foi então posta ao Município, a seguinte questão:
- “Está a CME disponível para solicitar ao IEFP a criação dos Cursos de Olaria, tal como é sugerido? “
O Município recusou-se a responder à questão formulada, o que é legítimo, tal como a frustração gerada na opinião pública, face a tal recusa. Para além disso, escudou-se em três declarações: 1 – O Município é receptivo às sugestões dos cidadãos, apresentadas na sequência do desenrolar natural das suas legítimas actividades cívicas. Tais sugestões são importantes em termos de tomada de decisões, mas nada obriga a que a sugestão tenha de ser seguida; 2 – O Município foi sufragado pelos cidadãos que lhe conferiram o poder de decisão sobre as matérias que legalmente são da sua competência; 3 – A sede própria para apresentar sugestões é o próprio Município, a quem compete ponderar sobre o seu interesse.
Este jornal não põe em causa a legitimidade de tais afirmações, mas declara que carece de demonstração, que a apresentação de sugestões na Imprensa local, possa configurar qualquer tipo de “pressão” sobre o Município.

A missão deste jornal
À semelhança dos partidos políticos, a Imprensa ainda que de uma forma distinta, dada a sua natureza diferenciada, constitui um dos pilares mais sólidos da Democracia.
Este jornal respeita os direitos, liberdades e garantias consignadas na Constituição da República Portuguesa e como tal, orienta-se pelos princípios da liberdade, do pluralismo e da independência do poder político e económico, bem como de qualquer credo, doutrina ou ideologia. A sua única subordinação é a Deontologia da Comunicação Social, a Lei de Imprensa, o Estatuto do Jornalista e o Estatuto Editorial.
Como tal, privilegia a informação isenta, rigorosa e objectiva, distinguindo claramente os espaços de opinião e assegurando nestes o confronto das diversas correntes de pensamento, através do exercício do princípio do contraditório. Todavia não fica por aqui, já que a Imprensa assumiu há muito e por direito próprio, um papel formativo e pedagógico, rastreando e equacionando problemas cuja resolução possa interessar à Comunidade. Por isso, a partilha de preocupações com o leitor é legítima, já que pode contribuir para que estes, em liberdade possam reflectir como se impõe sobre temas importantes, muitos dos quais têm a ver com a preservação e a salvaguarda da nossa identidade cultural local, como é o caso do risco de extinção da olaria estremocense.

A César o que é de César         
Este, o início de uma frase atribuída a Jesus nos evangelhos canónicos, aceites como autênticos pela maioria dos cristãos. Aí se lê: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” [Mateus (22:21), Marcos (12:17), Lucas (20:25)]. A frase resume a relação entre o cristianismo e a autoridade secular.
Na literatura de tradição oral, a separação de poderes está patente no adágio “O seu a seu dono”, bem como na expressão idiomática “Cada macaco no seu galho”, que traduz a convicção de que cada um de nós deve ocupar o seu devido lugar, sem intrometer-se em coisas que não são da sua competência. Significa isto que não compete à Imprensa substituir-se ao poder sufragado, tal como não compete a este fazer juízos de que o exercício do jornalismo é uma forma de “pressão” sobre ele.

Em que ficamos?
No número 165 (1-12-2016) deste jornal, vem inserida a reportagem “Autarquia, escola e emprego apoiam a iniciativa”, onde sob a epígrafe “Município disponível para estabelecer parcerias” é afirmado por um porta-voz do Município, que a CME está consciente da necessidade de recuperação e salvaguarda da olaria de Estremoz, através da criação de um centro de formação e promoção desta actividade artesanal, característica do concelho.
Tudo leva a crer agora que o Município queira chamar a si, a responsabilidade de impedir a extinção da olaria estremocense, sem qualquer intervenção do IEFP, recorrendo para tal ao edifício da antiga Olaria Alfacinha, cuja aquisição procura concretizar há mais de 15 anos. Ficamos todos na expectativa de ver concretizar o Plano que o Município tem para a recuperação e salvaguarda da olaria de Estremoz. Este jornal transmitirá para a posteridade a Memória do esforço que foi desenvolvido nesse sentido. Aos vindouros caberá ajuizar o papel de cada um dos intervenientes em todo este processo.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

66 - Berços do Menino Jesus – 5


Berço das pombinhas (Anos 80 do séc. XX).
Liberdade da Conceição (1913-1990).
Colecção particular.

Figurado de Estremoz – 2
Simbologia do berço das pombinhas
O berço das pombinhas é revelador da modificação introduzida pelos nossos barristas ao contexto do nascimento de Jesus. Nele, a manjedoura de Belém transfigurou-se em berço com espaldar à maneira das camas senhoriais, já que para os cristãos, Jesus Cristo é Rei e Senhor do Universo. O berço é decorado com recurso ao azul do Ultramar e ao ocre amarelo. Trata-se de cores garridas associadas às claridades do Sul e que são utilizadas no embelezamento das habitações populares desta terra transtagana.
Na simbologia judaico-cristã, a pomba é um símbolo de pureza e de simplicidade, bem como daquilo que de imorredouro existe no Homem, o princípio vital, a Alma. As quatro pombas brancas poderão ser uma representação alegórica dos quatro evangelistas (Mateus, Marcos, Lucas e João) que narraram a vida e a doutrina de Jesus Cristo como um Evangelho, visando preservar os seus ensinamentos ou revelar aspectos da natureza de Deus.
O simbolismo do galo está associado aos cultos solares da antiguidade, nos quais o Sol era venerado como divindade. De acordo com a tradição do culto mitraísta, o galo cantou no momento do nascimento de Mitra, o deus do Sol, da sabedoria e da guerra na Mitologia Persa. O mito viria a ser recuperado pela religião cristã, estando na origem da Missa do Galo, celebrada na passagem do dia 24 para o 25 de Dezembro, assinalando o nascimento de Jesus. Não há confirmação histórica de que Jesus tenha nascido na data em que se comemorava o nascimento de Mitra. Todavia, ela foi adoptada pelo cristianismo, visando fundir os dois cultos, uma vez que o culto a Mitra estava enraizado entre os romanos. A data corresponde também no Hemisfério Norte ao início do Solstício de Inverno, no qual os mitraístas celebravam o seu culto. O cristianismo adoptou o galo como símbolo do arauto anunciador de boas novas, uma vez que o nascimento de Jesus correspondia ao despontar de uma nova luz para o mundo. De acordo com a lenda, a única vez que o galo cantou foi à meia-noite, anunciando o nascimento de Jesus.
De acordo com a Mitologia Popular Portuguesa: - O galo quando canta diz: “Jesus é Cristo”; - O canto do galo à meia-noite faz dispersar a assembleia do Diabo e das Bruxas; - É mau agouro um galo cantar antes da meia-noite. Lá diz o provérbio: “Galo que fora de horas canta / Cutelo na garganta”; - O galo preto espanta as coisas ruins; - De acordo com o adagiário português “Galo branco não dá manhã certa”.
A figura do Menino Jesus está deitada sobre o seu lado direito. O braço esquerdo apoia-se no peito. Trata-se possivelmente de uma alegoria ao “Sagrado Coração de Jesus”. Recorde-se que no antigo Egipto, a mão colocada sobre o peito, indicava a atitude do sábio, que no caso de Jesus é Sabedoria Divina. Já a mão direita no pescoço assinalava a posição do sacrifício, aqui uma possível alegoria ao sacrifício de Jesus na cruz.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Ensaio sobre a cegueira

Cena do filme “Ensaio sobre a cegueira” de Fernando Meirelles (2008),
baseado na obra homónima de José Saramago.
À laia de desabafo
Pode-se muito legitimamente não gostar de furta-cor e eu seguramente não gosto. Todavia nas minhas crónicas de cidadania não desvio as atenções do leitor para questões colaterais que acabam por constituir “faits divers”. E isso nunca faço, já que “A verdade é como o azeite: Vem sempre ao de cima”.
Perfilho um sistema de valores que incluem a profunda convicção que o exercício da cidadania e em particular o direito de opinião, devem ter uma dimensão ética. Creio firmemente que os meios não justificam os fins, já que os meios utilizados podem pôr em causa valores universais que devem constituir a nossa matriz identitária e o nosso “corpus” doutrinário. À semelhança de José Saramago “Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.”.
Pessoalmente, recuso-me a ser um iluminado, daqueles que tudo fazem para convencer os outros, ainda que o adagiário nos advirta que “O excesso de luz produz a cegueira”. A partir daí “Sonhava o cego que via” e o que é trágico é que “O pior cego é o que não quer ver”. O iluminado enquanto cego está fortemente condicionado, já que “Um cego não pode ser juiz em cores”, além de que “Um cego não pode ser guia de outro cego”, pois “Se o cego guia o cego, correm ambos o risco de cair”.

Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade
Como é do conhecimento público, em devido tempo o Município de Estremoz submeteu à UNESCO, a Candidatura dos Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade. A fundamentação rigorosa da Candidatura, concedeu-lhe solidez e peso e consequentemente credibilidade, respeitabilidade e vigor, que a meu ver são condições não só necessárias como suficientes, para que seja uma Candidatura vitoriosa.
A inclusão dos bonecos de Estremoz na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, será o corolário natural de toda uma Candidatura que tem sido desenvolvida com rigor e traduzir-se-á numa maior divulgação, valorização e reconhecimento a nível planetário do nosso figurado. 
Aguardemos serenamente por Novembro de 2017.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Roberto, guardador de vacas e artista popular


Roberto Carreiras (1930-2017)
Arquivo Fotográfico Municipal de Estremoz / BMETZ –
- Colecção Joaquim Vermelho.

Faleceu no passado dia 8 de Janeiro, Roberto Carreiras, um dos últimos intérpretes da Arte Pastoril concelhia. Estremoz está de luto e com a cidade, a Cultura Popular Alentejana, da qual foi um legítimo representante.
Quem foi Roberto Carreiras
Roberto Francisco Pereira Carreiras (1930-2017), filho de José Joaquim Carreiras e de Francisca Bárbara, era natural da freguesia de Veiros, concelho de Estremoz, em cuja Quinta do Leão, nasceu a 25 de Janeiro de 1930.
Na vila de Veiros frequentou a Escola Primária e concluiu a 3ª classe. Porém, as dificuldades económicas da família, forçaram-no a abandonar a escola e a tornar-se vaqueiro naquela quinta. Ali trabalhou, até que a falta de saúde o obrigou a reformar-se.
À semelhança de outros artistas populares iniciou-se na Arte Pastoril como forma de ocupar o tempo enquanto guardava a manada. Os materiais usados começaram por ser a madeira, a cortiça, a cabaça, a cana, o buinho e o chifre. Estes eram trabalhados usando técnicas como a escultura ou o baixo-relevo. Todavia, viria a utilizar outros materiais como o arame, o xisto ou o mármore, nos quais expressava toda a sua imaginação criadora. De resto, era muito diversificada a temática das suas criações: brinquedos, antigas profissões, história, religião, touradas, etc.
Como criador começou a trabalhar ao ar livre no decurso da sua actividade como vaqueiro. Após se ter reformado, passou a trabalhar numa garagem cedida graciosamente pela Junta de Freguesia de Veiros, que o reconhecia não só como artista popular, como motivo de orgulho para a freguesia em que nascera e vivera.
Roberto Carreiras participou desde 1983 nas Feiras de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, bem como nas exposições de presépios promovidas anualmente pelo Museu Municipal. Aí esteve também patente ao público, entre Agosto e Novembro de 2006, a sua exposição “Artesanato de Roberto Carreiras”, integrada no conjunto de eventos que visavam assinalar os 80 anos de elevação de Estremoz à categoria de cidade. Em Maio de 2008, trabalhou ao vivo no mesmo local, participando na actividade “VIRVER MUSEUS”.
Roberto Carreiras e a esposa Rosa Mariana Machado, com quem casou em 1965, concederam-me há muito tempo, o privilégio da sua amizade, pelo que era sempre um prazer falar com eles no decurso das Feiras em Estremoz, no que era igualmente correspondido.
Num momento que é de luto para toda a Família, não posso deixar de formular aqui e com intenso pesar, as minhas sentidas condolências pela partida do seu ente querido.
A preservação da Memória
Roberto Carreiras partiu, mas deixou-nos um legado que urge preservar para memória futura. Creio que a Junta de Freguesia de Veiros tem motivação e meios para musealizar o seu espólio e decerto não deixará de o fazer. Pessoalmente, orgulho-me de as minhas colecções de Arte Pastoril integrarem especímenes afeiçoados pelas suas mãos, que comandadas pela sua alma de visionário, nunca se renderam à rudeza do uso do cajado e do mester de vaqueiro. Foram mãos hábeis que aliadas a um espírito sensível, conseguiram filigranar e esculpir os materiais com mestria. Para que conste na nossa memória colectiva, aqui fica o registo do meu testemunho, o qual finalizo, proclamando:
- ROBERTO CARREIRAS, PRESENTE!
Aproveito ainda para aqui sugerir à Junta de Freguesia de Veiros que numa próxima atribuição de topónimos a ruas da Vila, seja contemplada a proposta: RUA ROBERTO CARREIRAS (Artista Popular).
Requiem pela Arte Pastoril
Em 1983, decorreu em Estremoz, entre 15 e 17 de Julho, A I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz. Tratou-se de uma excelente feira, concretizada apenas com “prata da casa”. Identificados de uma forma mais ou menos evidente com a Arte Pastoril, encontravam-se ali 10 participantes: António Joaquim Amaral, Jacinto Lagarto Oliveira, Joaquim Carriço (Rolo), Joaquim Manuel Velhinho, José Carrilho (Troncho), José Francisco Chagas, José Joaquim Vinagre, Manuel do Carmo Casaca, Roberto Carreiras, Teresa Serol Gomes.
Desde então, nunca ninguém com responsabilidades no cartório, equacionou um Plano de Salvaguarda da Arte Pastoril, ainda que circunstancialmente possa vir a chorar lágrimas de crocodilo.
Após o passamento de Roberto Carreiras, restam José Joaquim Vinagre e Joaquim Carriço (Rolo), do segundo dos quais está prevista uma exposição no Museu Municipal. A partir daí, fica em aberto a celebração de um Requiem pela Arte Pastoril.
Aqui fica o aviso de alguém que não se cala e que nunca se rende. É a crónica anunciada de mais uma tragédia cultural que se avizinha.
Publicado pela 1º vez em 8 de Fevereiro de 2017