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terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Lançamento do livro "O Motorista dos Cortes/Histórias da minha terra" de José Domingos Ramalho

 


Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 29 de Novembro de 2023

Dia 9 de dezembro, pelas 15:30 horas, o Museu Berardo Estremoz vai receber o lançamento do livro "O Motorista dos Cortes/Histórias da minha terra", de José Domingos Ramalho.
Depois de “O Ameixa tem Uma Filha”, – Edição da 5 Livros – 2022, José Domingos Ramalho, volta a escrever sobre a vida das gentes e paisagens humanas do Alentejo.
Mestre em Recursos Humanos e Desenvolvimento Sustentável e Licenciado em Sociologia, é co-autor da obra Diagnóstico Social: Teoria, metodologia e casos práticos - Edição Sílabo 2017.
O autor dedica parte da sua vida ao estudo da grafologia e é conhecida a sua paixão pela cultura, gastronomia e etnografia alentejana.
Venha conhecer duas histórias das gentes alentejanas, num só livro!
A entrada para a iniciativa é gratuita.

Sinopse
O Motorista dos Cortes
Entre a primeira e a segunda guerra mundial, uma família tradicional alentejana, trouxe ao mundo sete raparigas e dois rapazes.
No dia em que uma das filhas engravidou e o parceiro não quis assentar-se como pai, a vida da família mudou radicalmente.
A rapariga passou à condição de mulher escondida e o rapaz refugiou-se na Lisboa castiça, boémia e fadista.
Ao fim de vinte anos de destinos separados, será a filha de ambos, já em idade adulta, a promover a união dos progenitores, mas a estória pode ter um desfecho inesperado.



sexta-feira, 10 de novembro de 2023

18 de Novembro, às 15:30, no Museu Berardo Estremoz: “António Telmo em Estremoz”


António Telmo (1927-2010). Fotografia de João Albardeiro (1951-2004).

António Telmo em Estremoz  

Dar a conhecer a vida, a obra e o pensamento de António Telmo, filósofo e escritor que durante três décadas viveu e leccionou em Estremoz, é o propósito da sessão “António Telmo em Estremoz”, que se realiza no Museu Berardo Estremoz no próximo dia 18 de Novembro, sábado, a partir das 15:30, numa parceria da Câmara Municipal deEstremoz com o Projecto António Telmo. Vida e Obra. 

A abrir a sessão terá lugar a apresentação, por Elísio Gala, ensaísta e professor de Filosofia na Escola Secundária do Redondo, do livro A Glória da Invenção – Uma aproximação aopensamento iniciático de António Telmo, de Pedro Martins e Risoleta C. Pinto Pedro, recentemente editado pela Zéfiro, que é também a chancela que publica as Obras Completas de António Telmo. Mara Rosa lerá alguns excertos da obra.

Depois, António CândidoFranco, escritor e professor da Universidade de Évora, fará uma intervenção sobre António Telmo.

Por fim, uma mesa-redonda moderada por Pedro Martins, e que conta com a participação de Elísio Gala, Hernâni Matos, Ilídio Saramago, João Fortio, João Tavares, José Capitão Pardal e Paula Capelinha dará a conhecer, entre outras vertentes, a relação do cidadão, do escritor, do professor ou do bilharista com Estremoz e com outras terras da região, igualmente marcantes na sua vida e na sua obra.

Durante a sessão, estarão à venda obras de António Telmo ou sobre António Telmo e temáticas afins, editadas pela Zéfiro.  

António Telmo - Nota biográfica

António Telmo Carvalho Vitorino nasceu em Almeida em 2 de Maio de 1927, vindo a falecer em Évora em 21 de Agosto de 2010. Licenciado em Filologia Clássica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, dedicou-se profissionalmente ao magistério, leccionando em Beja, Évora, Sesimbra (onde foi também o primeiro director da Biblioteca Municipal), Redondo (onde, no início da década de 70 fundou, instalou e dirigiu a Escola Preparatória – nas suas palavras «a primeira escola democrática em Portugal, ainda antes do 25 de Abril») e Estremoz, onde, na década de 80, se viria a radicar. 

Foi um dos filósofos mais audazes, originais e fecundos de Portugal. Discípulo de Álvaro Ribeiro, José Marinho, Eudoro de Sousa e Agostinho da Silva (a convite dos dois últimos, durante cinco semestres, entre 1966 e 1968, ensinará Latim e Literatura Portuguesa na Universidade de Brasília), António Telmo desenvolveu ao longo de várias décadas um pensamento da razão poética, num diálogo constante entre a poesia e a filosofia, o símbolo e a ideia, a imaginação e a inteligência – em suma, entre a alma e o espírito.

Hermeneuta pioneiro e genial, a este intrépido livre-pensador religioso, que restituiu ao esoterismo o seu direito de cidade no pensamento português da segunda metade do século XX, se ficou a dever, na História Secreta de Portugal, a subtil decifração, à luz da gnose templária, dos medalhões simbólicos do Claustro do Mosteiro dos Jerónimos; e, outrossim, a desocultação da obra poética de Luís de Camões, sobretudo de Os Lusíadas – sem esquecer o subtil diálogo de aprofundamento e desvendamento que estabeleceu com o corpus poético e teorético de Fernando Pessoa. Por outro lado, com a sua Gramática Secreta da Língua Portuguesa, António Telmo demonstrou, segundo uma dedução cabalística dos fonemas conforme às estruturas da árvore sefirótica, a natureza de língua sagrada do idioma pátrio.

Na senda de seu mestre Álvaro Ribeiro, que via na filosofia portuguesa uma confluência sintetizadora das três religiões abraâmicas, António Telmo, descendente de gente de nação, chama a atenção para a existência, entre nós, de um subconsciente hebraico, fruto do recalcamento a que mais de dois séculos de manifesto terror inquisitorial haveriam fatalmente de nos conduzir. Deste modo, o filósofo reelabora a kabbalah judeo-cristã à luz de um marranismo de que toma progressiva consciência e que irá porventura culminar na sua iniciação maçónica, a que estará subjacente um propósito de rectificação da Arte Real já aflorado na História Secreta de Portugal, mas bem patente nas derradeiras obras do filósofo.

António Telmo deixou colaboração esparsa por inúmeros jornais e revistas, entre os quais se destacam o Diário de Notícias, o 57 ou a Espiral. Além do ensaio, a sua obra abarca ainda a ficção, a dramaturgia e a poesia, géneros literários que só episodicamente cultivou, mas sempre com uma evidente preocupação filosofal. Entre os títulos da sua biografia, contam-se os seguintes livros: Arte Poética (1963); História Secreta de Portugal (1977; reed. 2013); Gramática Secreta da Língua Portuguesa (1981); Desembarque dos Maniqueus na Ilha de Camões (1982); Filosofia e Kabbalah (1989); O Bateleur (1992); O Horóscopo de Portugal (1997); Contos (1999); Viagem a Granada (2005); A Hora de Anjos Haver (2007); A Verdade do Amor, seguido de Adoração, de Leonardo Coimbra (2008); Congeminações de um Neopitagórico (2009); O Portugal de António Telmo (2010); A Aventura Maçónica (2011); Sesimbra, o lugar onde se não morre (2011).

Em 2021 foi publicado em França Philosophie et Kabbale, tradução em francês do livro Filosofia e Kabbalah, com o selo de Éditions de La Tarente, prefácio de Sylvie e Rémi Boyer e ilustrações de Lima de Freitas.

As suas Obras Completas estão em curso de publicação na editora Zéfiro, com o apoio institucional e científico do Projecto António Telmo. Vida e Obra.

Texto da responsabilidade do Projecto António Telmo. Vida e Obra

 Hernâni Matos

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

CASA DO ALENTEJO, CULTURA, LIBERDADE E SOLIDARIEDADE - 100.º ANIVERSÁRIO

 


Integrado nas Comemorações do Centenário da Casa do Alentejo, terá lugar na sede desta casa regionalista, em Lisboa, no próximo dia 10 de Novembro (6.ª feira), a partir das 17 horas, a apresentação do livro Casa do Alentejo, Cultura, Liberdade e Solidariedade - 100.º aniversário. Digna-se presidir à sessão, Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

A apresentação do livro estará a cargo de Ana Paula Amendoeira (Directora Regional da Cultura do Alentejo) e Santiago Macías (Director do Panteão Nacional).

Com coordenação de Rosa Calado e Fernando Mão de Ferro, o presente livro é um contributo de cerca de 50 investigadores para um melhor conhecimento do Alentejo e da histórica “Embaixada Cultural” em Lisboa. Fundada por alentejanos que procuravam, através do convívio, práticas culturais e acções solidárias, minimizar as saudades do seu território e das suas gentes. 100 anos depois, a Casa do Alentejo continua aberta ao Mundo, com os mesmos propósitos e valores, e as mais variadas manifestações sociais e culturais, inspiradas nos valores da Paz, da Justiça Social e da Liberdade.

O livro, editado por Edições Colibri e pela Casa do Alentejo, tem 490 páginas de formato 22,0 cm x 28,0 cm, com impressão a cores em papel couché de 135 grs. O livro pode ser adquirido na Casa do Alentejo, nas edições Colibri e em todas as livrarias que distribuem obras daquela editora. O preço de venda ao público é de 40 €.

CASA DO ALENTEJO, CULTURA, LIBERDADE E SOLIDARIEDADE - 100.º ANIVERSÁRIO

Índice


Preâmbulo - Presidente da Casa do Alentejo
Nota prévia - Rosa Honrado Calado e Fernando Mão de Ferro
Prefácio - Santiago Macias

É TÃO GRANDE O ALENTEJO
O Alentejo, na visão do geólogo - Galopim de Carvalho
Alentejo - um século de arqueologia (1923-2023) - António Carlos Silva
Alentejo: território megalítico - Leonor Rocha
No pó da terra: o Alentejo em época romana - André Carneiro
Memórias Judaicas no Alentejo - Jorge de Oliveira e Beatriz Felício
O Alentejo e a resistência à opressão. Da monarquia constitucional à queda do Estado Novo - Teresa Fonseca
A reforma agrária na Revolução de Abril - António Murteira
O 25 de Abril e o Poder Local Democrático - António Figueira Mendes
O Alentejo - apontamentos geográficos - Jorge Gaspar
Alqueva: fins múltiplos, benefícios limitados - José Maria Pós-de-Mina
Alentejo: cultura e monumentos - Manuel J. C. Branco
O Alentejo e o Património Cultural Imaterial - Ana Paula Amendoeira
O Cante - Património da Humanidade - Paulo Barriga
Os Chocalhos - Património do Alentejo e do Mundo - Eduardo Luciano
Bonecos de Estremoz para a Humanidade - Hernâni Matos
Festas do Povo de Campo Maior - Ana Margarida Azinhais
A gastronomia alentejana e a sua tradição. Que futuro? - Francisco Sabino
Como se canta na diáspora alentejana: dois estudos de caso no Feijó e no Seixal - Ana Durão Machado
Associativismo alentejano em Lisboa - Luís Filipe Maçarico

A CASA DO ALENTEJO
Das origens da agremiação alentejana ao luxuoso palacete na Baixa Lisboeta - Rui Rosado Vieira
Elementos sobre a história e o património do Palácio Alverca/Casa do Alentejo - Guilherme Alves Coelho
A aquisição do Palácio Alverca - Luís Filipe Maçarico
O arquivo do arquiteto Silva Júnior - João Miguel Henriques
Visita guiada ao património da Casa do Alentejo - Património a Preservar - Rosa Honrado Calado
A imprensa alentejana - boletins e revistas da Casa do Alentejo - Vivaldo Quintans, Francisca Bicho, Rosa Honrado Calado, Maximiano Gonçalves e Avelino Bento
Personalidades dignas de memória em 100 anos
Dirigentes Associativos: Agostinho Fortes • Jacinto F. Palma • Francisco Ramos e Costa Escritores: Fialho de Almeida • Manuel da Fonseca • Antunes da Silva • Urbano Tavares Rodrigues • Eduardo Olímpio
Pintores: Maria Toscano Rico • Guy Ferreira • Dordio Gomes • Manuel Ribeiro de Pavia • Rogério Ribeiro • António Galvão
Raízes da Casa do Alentejo: sindicalistas, feministas e democratas - Luís Carvalho
Uma casa para a cultura em tempo de liberdade. Os bailes da Casa do Alentejo - Luís Filipe Maçarico
Casa do Alentejo - local de comemorações e de homenagens - Rosa Honrado Calado
O CEDA - a revista Memória Alentejana e revistas do Alentejo na região de Lisboa - Eduardo M. Raposo
A Casa do Alentejo e a regionalização. Congressos sobre o Alentejo - Francisco do Ó Pacheco
Com o Alentejo no coração - José Saramago• José Régio• Miguel Torga• Fernando Namora
• Eugénio de Andrade • Michel Giacometti • Júlio Resende
Casa do Alentejo, um espaço de cultura e solidariedade - José Alberto Franco
Economia - em tempo de pandemia. Esperança da retoma - Manuel Verdugo
Casa do Alentejo! Casa mãe dos alentejanos e do Cante Alentejano - José Miranda
Inspirações literárias e poéticas - Martinho Marques • João Mário Caldeira • Luís Filipe Maçarico • João Monge • Victor Encarnação

sábado, 7 de outubro de 2023

José Saramago, Prémio Nobel há 25 anos


José Saramago a receber o Prémio Nobel entregue por Carlos Gustavo da Suécia.
Foto "FLT-PICA".

A 7 de Outubro de 1998, José Saramago (1922-2010) torna-se o primeiro autor de língua portuguesa a ser galardoado com o Prémio Nobel de Literatura, o qual lhe viria a ser entregue a 10 de Dezembro desse ano, em Estocolmo, pelo rei Carlos Gustavo da Suécia.
Segundo a Academia Sueca, responsável pela atribuição do Prémio, Saramago recebe-o por uma obra "…cujas parábolas, respaldadas por imaginação, piedade e ironia, nos permitem apreender de forma contínua uma realidade ilusória.".
Sobre a atribuição do Nobel a Saramago muito foi dito. Destacamos apenas: ”Por tudo quanto escreveu e como escreveu, a justiça do Prémio Nobel a José Saramago é devida e justificada. Afora a regularidade da sua produção, a maneira singular de transformar o comum em essencial, no que tange ao mais profundo, dramático e impronunciável do ser humano; a provocadora e instigante forma de repensar a história e de projectar o futuro, fazem-no merecedor do Prémio - o primeiro concedido a um escritor de Língua Portuguesa.” (Maria de Lourdes Simões, ensaio publicado em “A Tarde Cultural”. Salvador, 5 de Dezembro de 1998).
Antes de ter sido agraciado com o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago já ganhara em 1991 o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores com o romance “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e em 1986, o Prémio Camões por toda a sua obra.
A obra de Saramago é vasta e diversificada, distribuindo-se por múltiplos géneros literários: ROMANCES - Terra do Pecado (1947), Manual de Pintura e Caligrafia (1977), Levantado do Chão (1980), Memorial do Convento (1982), O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), História do Cerco de Lisboa (1989), O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), Ensaio Sobre a Cegueira (1995), Todos os Nomes (1997), A Caverna (2000), O Homem Duplicado (2002), Ensaio Sobre a Lucidez (2004), As Intermitências da Morte (2005), A Viagem do Elefante (2008), Caim (2009), Clarabóia (2011). POESIA – Os Poemas Possíveis (1966), Provavelmente Alegria (1970), O Ano de 1993 (1975). VIAGENS – Viagem a Portugal (1983). PEÇAS TEATRAIS – A Noite (1979), Que Farei com Este Livro? (1980), A Segunda Vida de Francisco de Assis (1987), In Nomine Dei (1993), Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido (2005). CONTOS – Objecto Quase (1978), Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido (1979), O Conto da Ilha Desconhecida (1997). CRÓNICAS – Deste Mundo e do Outro (1971), A Bagagem do Viajante (1973), As Opiniões que o DL Teve (1974), Os Apontamentos (1977). LITERATURA INFANTIL - A Maior Flor do Mundo (2002). DIÁRIO E MEMÓRIAS – Cadernos de Lanzarote (I-V) (1994), As Pequenas Memórias (2006).
Sobre o estilo inconfundível de José Saramago afirmaram: “José Saramago foi conhecido por utilizar um estilo oral, coevo dos contos de tradição oral populares em que a vivacidade da comunicação é mais importante do que a correcção ortográfica de uma linguagem escrita. Todas as características de uma linguagem oral, predominantemente usada na oratória, na dialéctica, na retórica e que servem sobremaneira o seu estilo interventivo e persuasivo estão presentes. Assim, utiliza frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional; os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões nos seus livros. Este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento. Muitas das suas frases (i.e. orações) ocupam mais de uma página, usando vírgulas onde a maioria dos escritores usaria pontos finais. Da mesma forma, muitos dos seus parágrafos ocupariam capítulos inteiros de outros autores.” (Revista “Entre livros, nº 23. Editora Duetto, São Paulo (2007), citada pela Wikipédia).
Passemos em revista algumas opiniões sobre as obras essenciais de Saramago: LEVANTADO DO CHÃO - “A epopeia dos trabalhadores alentejanos, a elucidação da reforma agrária, a narrativa dos casos, conhecidos ou não, que fizeram do Alentejo um mar seco de carências, privações, torturas, sangue e uma impossibilidade de viver.” (Alzira Seixo em "O Essencial sobre Saramago.”. “Um comunista escrever sobre o Alentejo é tão óbvio com um “tio” escrever sobre os gelados Santini. Saramago encontrou a sua voz neste romance sobre trabalhadores rurais mas poderia ter escrito sobre operários da Lisnave.” (Bruno Amaral – Crítico literário do diário “i”.). MEMORIAL DO CONVENTO - “Certamente o mais celebrado, estudado e discutido dos romances de Saramago” (Carlos Reis). “Um romance histórico inovador no contexto da literatura mundial” (José Luís Peixoto no “JORNAL DE LETRAS”). “Não diga a ninguém que nunca leu. Há um Baltazar, uma Blimunda e um Bartolomeu, um rei megalómano com um interesse pouco cristão por freiras e um fascínio por edifícios faraónicos e um tanto inúteis” (Bruno Amaral – Crítico literário do diário “i”.). "O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS" (1984) - “Cada vez mais o meu romance preferido, do conjunto da obra saramaguiana” (Carlos Reis). “Um labirinto construído sobre outro labirinto, a forma brilhante, brilhante como a ficção se aproxima de um tempo real” (José Luís Peixoto no “JORNAL DE LETRAS”). “Um romance onde Saramago elabora conjecturas fecundas para a compreensão de uma época ou de uma figura” (Alzira Seixo). “Quatro anos antes do centenário do nascimento de Fernando Pessoa, Saramago “matou” o heterónimo Ricardo Reis, aquele rapaz que preferia ficar de mãos dadas com Lídia em vez de trocar carícias” (Bruno Amaral – Crítico literário do diário “i”.). "HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA" (1989) - “Um dos enredos mais bem imaginados da literatura portuguesa” (José Luís Peixoto no “JORNAL DE LETRAS”). "O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO" (1991) - “O Evangelho segundo Jesus Cristo contém uma história que todos conhecemos. E contém cenas e afirmações que há alguns anos atrás teriam lançado o autor na fogueira, sem direito a sepulcro. O escritor toma para si liberdades que são a substância da criação, e comporta-se, na invenção do seu mundo, como Deus. Este é o evangelho segundo Saramago...” (Clara Ferreira Alves, no “Expresso”). “Um Jesus Cristo humano, demasiado humano, um diabo simpático e um Deus insuportável. Com este romance, Saramago despertou a fúria dos católicos e ofereceu ao país um personagem inesquecível: Sousa Lara.” (Bruno  Amaral – Crítico literário do diário “i”.). "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA" (1995) - “Quase em ritmo e registo de ficção científica, Ensaio sobre a Cegueira mantém, na escrita de José Saramago e na sua aventura romanesca, uma dimensão rara e singular na actual literatura portuguesa: a constante demanda de um laço que prenda o romance à arte de questionar e que, daí, exija o lugar de uma ética mais profunda que a própria arte de pensar. Como se o romance fosse, e nunca tivesse deixado de ser, uma interrogação sobre o mundo como ele é e como ele devia ser.” (Francisco José Viegas na “Visão”) “Ensaio sobre a Cegueira, de alguma forma representou o início de uma nova fase na obra de Saramago. E, decerto não por acaso, foi depois dele que se passou a falar ainda mais da grande possibilidade de, com inteira justiça, lhe ser atribuído o Nobel.” (José Carlos de Vasconcelos no “JORNAL DE LETRAS”). “A cegueira como metáfora e como factor que desencadeia o mais primitivo e brutal que a Humanidade carrega. A única personagem que resiste à epidemia é a mulher de um médico: a burguesia é sempre privilegiada.” (Bruno  Amaral – Crítico literário do diário “i”.). AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE - “São livros como este que nos tocam fundo, nos desarmam e nos deixam sem resposta. Apenas sabemos que na morte e no seu compromisso para com a humanidade reside o medo atávico do desconhecido, do vazio, algures numa hora e num lugar dentro de nós.” (Luísa Mellid-Franco no Expresso). POESIA COMPLETA – “Uma edição bilingue saída em Espanha, essencial na sua obra. Quem a ler perceberá porquê.” (José Manuel Mendes, da Associação Portuguesa de Escritores).
Sobre o conjunto da obra de Saramago também muito foi escrito. Destacamos apenas algiumas opiniões:
“Com José Saramago a Língua Portuguesa jorrou de potencialidades incomensuráveis, de rebeldia, de fascínio e emoção. A obra de Saramago expulsa as certezas, questiona o país e o mundo na procura de quem somos e porque estamos aqui. A obra de Saramago rejeita as verdades únicas, desafia as fronteiras das convenções sociais e artísticas. Por tudo isto, quando soou a hora da despedida, emergiram nas mãos dos leitores e leitoras anónimas, os livros, as histórias, as personagens que ficam mais sós, porque… … …”Um dia vou deixar de estar aqui”, Saramago.” (Luísa Mesquita, autora da primeira tese académica sobre a obra de Saramago).
“A sua obra, apesar de controversa, é uma referência do exercício mais pleno de liberdade. Destaco o carácter insubordinado e insurrecto de José Saramago, embora tenha discordado de algumas atitudes de maior intolerância. Saramago morreu depois de uma vida cheia, pode dizer “confesso que vivi” como o livro de Pablo Neruda. Só os escrivães recolhem unanimismo. Fica-me na memória o “Memorial do Convento”, um livro que só nos acontece uma vez na vida.” (Moita Flores no “Jornal do Ribatejo”).
“… é quase sempre admirável a maneira como Saramago desenvolve uma linguagem literária que, logo à partida, pretenderia aproximar-se de uma oralidade ideal e primordial, a partir da qual todos os planos da narrativa se diferenciam e na qual todos voltam depois a convergir. Esta técnica singular ter-se-á por vezes tornado num dos seus maneirismos, mas é extremamente eficaz em muitos casos.” (Vasco da Graça Moura no DIÁRIO DE NOTÍCIAS).
José Saramago é um dos escritores portugueses mais lidos e traduzidos no estrangeiro. A sua obra foi publicada em 75 países: Albânia, Alemanha, Argentina, Áustria, Bangladesh, Bósnia-Herzegovina, Brasil, Bulgária, Canadá, China (mandarim, cantonês), Colômbia, Coreia do Sul, Croácia, Cuba, Dinamarca, Emiratos Árabes Unidos, Eslováquia, Eslovénia, Espanha (castelhano, catalão, valenciano, euskera), Estados Unidos da América, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Guatemala, Hungria, Índia (índi, malayam, bengalí), Irão (farsi), Iraque, Islândia, Israel, Itália (italiano, sardo), Japão, Letónia, Lituânia, Macedónia, México, Montenegro, Noruega, Países Baixos, Perú, Polónia, Reino Unido, República Checa (checo, eslovaco), República Dominicana, Roménia, Rússia, Sérvia, Síria, Suécia, Suíça, Tailândia, Taiwan, Turquia, Uruguai, Qatar, Egipto, Vietnam, Holanda.
Os livros de José Saramago foram traduzidos para 48 idiomas: Albanês, alemão, árabe, azerbaijano, bengali, búlgaro, cantonês, castelhano, catalão, checo, coreano, croata (alfabeto latino), dinamarquês, eslovaco, esloveno, esperanto, euskera, farsi, finlandês (suomi), francês, georgiano, grego, hebraico, hindi, holandês, húngaro, inglês, islandês, italiano, japonês, letão, lituano, malabar, malaio, mandarim, norueguês, polaco, romeno, russo, sardo, sérvio (alfabeto cirílico), sueco, tailandês, tamil, turco, ucraniano, valenciano e vietnamita.

Foi há 25 anos que Saramago recebeu o Prémio Nobel da Literatura. Parece que foi ontem.


BIBLIOGRAFIA
José Saramago a ser aplaudido após ter recebido o Prémio Nobel.
Foto "Diário de Notícias". 


José Saramago mostrando o galardão com que foi distinguido.
Foto "Fundação José Saramago". 

domingo, 1 de agosto de 2021

Um amigo de há quarenta anos

 

António Oliveira. Alfarrabista.


O professor Hernâni Matos é uma figura sobejamente conhecida, tanto a nível local como nacional.
É um excepcional amigo com o qual me encontro quase todos os sábados em Estremoz.
Conhecemo-nos há cerca de 40 anos, através do coleccionismo, tendo eu por diversas vezes sido convidado a participar com colecções minhas em exposições por si organizadas.
Tem publicado inúmeros textos nos jornais “Brados do Alentejo” e “E”, ambos de Estremoz, bem como no seu blogue “Do Tempo da outra Senhora”, que é uma fonte de conhecimento para quem o consulta.
Tem uma extraordinária biblioteca que tem contruído ao longo dos anos e para a qual tenho dado o meu contributo como alfarrabista.
Tem duas grandes paixões: a filatelia e a etnografia, em particular do mundo rural alentejano.
A segunda dessas paixões levou-o a publicar em 2018 o livro “Bonecos de Estremoz”, na sequência de investigação realizada e depois disso continua a ser um entusiasta dos bonecos e um divulgador dos trabalhos dos bonequeiros.
Desejo-lhe a continuação de um bom trabalho.

António Oliveira
Évora, 10 de Julho de 2021

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Hernâni: uma referência


Maria Manuela Fidalgo Marques. Professora. Ex-vereadora do Pelouro da Cultura
da Câmara Municipal de Estremoz.

Conheci o Hernâni, professor na Escola Comercial e Industrial, hoje Escola Secundária da Rainha Santa Isabel. Era um professor exigente. A "simpatia" não foi à primeira vista. Confesso que o achava um pouco "arrogante".O Hernâni é observador, dinâmico, atento, arguto, determinado e por vezes irónico. No blogue "Do Tempo da Outra Senhora" de sua autoria, é abrangente. Conta "estórias", fala-nos da história da sua cidade e não só.
É um Homem de causas, que defende sem medos. É um orgulho tê-lo como amigo do qual gosto, por ser como é.
 
Maria Manuela Fidalgo Marques
Estremoz, 2 de Fevereiro de 2021


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Uma vida ao serviço da Cultura Portuguesa


 Pedro Marçal Vaz Pereira. Presidente da FPF - Federação Portuguesa de Filatelia.
Presidente Honorário da FEPA - Federação Europeia de Sociedades Filatélicas. 
 

Hernâni Carmelo de Matos é um dos homens mais brilhantes, que conheci ao longo da minha vida.
Homem culto, competente, empreendedor, ama o seu Alentejo e dedicou-lhe toda a sua vida.
Autor de excelentes obras de grande valor histórico e social, como “Memórias do Tempo da Outra Senhora” e “Franco-Atirador”, que são o culminar de muitos anos de uma vida cheia de experiências e tendo a “Escrita como Instrumento da Libertação do Homem”. Hernâni Matos passou para o papel essas suas vivências sociais e culturais de outros tempos e outros modos, para que estas memórias fiquem presentes no futuro, como a força e experiência de vida deste alentejano multifacetado e multicultural.
Apaixonado pela arte do barro, pelos bonecos de Estremoz, pela olaria, Hernâni de Matos reuniu umas das maiores coleções, dedicada a esta soberba arte de fazer bem e bonito com o barro.
Para imortalizar esta sua paixão, escreveu um extraordinário livro dedicado ao tema, a que deu o título de “Bonecos de Estremoz” e que apresentou em Janeiro de 2019, na cidade de Estremoz.
Hernâni Matos é também um apaixonado pela etnografia alentejana.
Depois é vê-lo aos sábados na feira de Estremoz, realizada em frente da Câmara Municipal, à procura de objectos que lhe interessem e a receber dos feirantes peças que estes guardaram para a sua colecção. Primeiro está o Dr. Hernâni e depois estão os outros, se o Dr. Hernâni não quiser, assim me confessou uma vez um desses feirantes.
E assim a sua colecção, tornou-se numa das mais ricas do país.
Adora a história e a literatura oral, tendo promovido diversas sessões onde esta última teve um papel importantíssimo.
O seu envolvimento cívico na vida de Estremoz e do seu Alentejo, é notável e merecedor dos maiores elogios e agradecimentos. Sem ele, Estremoz e o Alentejo não seriam os mesmos.
E deixei para o fim, um dos aspectos culturais mais ricos de Hernâni de Matos. Trata-se da Filatelia.
Hernâni de Matos é um dos melhores filatelistas de Portugal e um dos mais distintos a nível nacional, sendo reconhecido a nível internacional.
Com as suas colecções de Inteiros Postais e Maximafilia, apresentadas em exposições filatélicas nacionais e internacionais, foi classificado com altíssimos prémios.
É um jornalista filatélico de corpo inteiro, sendo um excelente articulista, tendo escrito brilhantes artigos, para muitas revistas filatélicas.
Foi membro da Direcção da Federação Portuguesa de Filatelia.
Integra como Jurado o quadro nacional de jurados da Federação Portuguesa de Filatelia e integra igualmente como Jurado o quadro de jurados internacionais da FIP - Federação Internacional de Filatelia.
A Federação Portuguesa de Filatelia atribuiu-lhe em 2004, a Ordem de Mérito Filatélico, pelos excepcionais serviços prestados à Filatelia.
Foi ainda membro da Comissão de Inteiros Postais da Federação Internacional de Filatelia e Delegado Nacional da Federação Portuguesa de Filatelia, a essa Comissão.
A FEPA-Federação Europeia de Associações Filatélicas teve o seu primeiro website em 2001, tendo sido Hernâni Matos o responsável pela sua criação e manutenção até 2009.
Teve um período da sua vida, que dedicou à juventude filatélica, tendo captado muitos jovens para a Filatelia Portuguesa.
No associativismo filatélico foi Presidente da Associação Filatélica Alentejana, que desenvolveu a nível nacional uma acção de grande prestígio, mérito e competência.
Fundou o Correio do Alentejo, revista da Associação Filatélica Alentejana, revista difusora das iniciativas daquela agremiação e da Filatelia de Portugal.
Foi ainda o fundador da ANJEF - Associação Nacional de Escritores e Jornalistas Filatélicos, da qual foi Presidente, tendo instituído os prémios anuais para os melhores trabalhos de Literatura Filatélica e fundado uma revista de grande qualidade, com o título “Convenção Filatélica”.
Foi o organizador de muitas exposições em Estremoz, algumas de grande porte e importância, como foi a de 2004, comemorativa dos 50 anos da Federação Portuguesa de Filatelia, onde Brasil e Espanha estiveram presentes.
Brilhante conferencista, proferiu imensas conferências tanto filatélicas como de outros temas.
O Alentejo e a cultura de Portugal devem muito a Hernâni de Matos, que de forma altruísta, dedicada e competente, mas sempre desinteressada, muito tem dado a Portugal e ao seu Alentejo.
Hernâni de Matos é daqueles amigos que sabe bem ter na nossa vida, pelo seu enorme estatuto cultural, pela sua competência, pela sua lealdade, pela sua verticalidade e acima de tudo pelo gosto de termos amigos como ele.
Aqui fica este meu sincero testemunho, que transportado para a vida real e cultural, dá uma enorme obra de Hernâni de Matos, para o seu amado Alentejo e para Portugal.
Contamos com Hernâni de Matos para muitas mais.
Bem-haja meu Amigo por tudo que nos tem dado e tem realizado.
 
Pedro Marçal Vaz Pereira
Lisboa, 3 de Fevereiro de 2021


Hernâni Matos no desempenho das funções de jurado FIP de Inteiros Postais na
Exposição Mundial de Filatelia ESPAÑA 2006 (Málaga, 7 a 14 de Outubro).

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Ferozmente independente


Manuel Calado. Arqueólogo.


Décimas dedicadas a Hernâni Matos
pelo seu amigo Manuel Calado


FEROZMENTE INDEPENDENTE

Ferozmente independente
Homem das letras exactas
Sempre na linha da frente
Sem timidez nem bravatas

Aguçado pela ciência,
Com método positivo,
Vens construindo um arquivo
Com saber e paciência.
Um marco da resistência
Da cultura popular,
A alma da nossa gente.
É uma forma de lutar,
E contra a maré remar, 
Ferozmente independente.

Um guardador de memórias, 
Que se perdem hora a hora. 
Tempos da outra senhora. 
Entre bonecos e estórias. 
Os sonhos do povo, as glórias 
De um viver ancestral. 
Boneco, selo, postal,
Juntando dados e datas.
Hernâni Matos, o tal
Homem das letras exactas. 

Vais pondo, em letras certinhas,
Coisas simples, verdadeiras. 
Dás ânimo às boniqueiras,
Que contemplas e acarinhas.
Tu sabes ou adivinhas
Como se fazem artistas. 
Cada peça que conquistas
Também enriquece a gente.
És homem largo de vistas,
Sempre na linha da frente. 

Como bom filho do povo 
Alimentas as raízes 
O que escreves e o que dizes,
Sempre antigo, é sempre novo. 
Coisas com que me comovo. 
Hernâni, homem de Abril, 
Outono primaveril:
As belezas que retratas
São a arte pastoril, 
Sem timidez, nem bravatas.

Manuel Calado
Borba, 3 de Fevereiro de 2021

domingo, 17 de janeiro de 2021

És alfaiate da palavra

 

Francisco Martinho Garrido Ramos (Xico de São Bento).  Poeta popular
e Presidente da Academia do Bacalhau de Estremoz.


Uma das muitas coisas que partilho com os outros é a escrita,
instrumento de libertação do Homem. 
Filho de alfaiate, aprendi a alinhavar palavras,
que permitem cerzir ideias com que se propagam doutrinas. 
Esse o sentido da minha intervenção na blogosfera.

MATOS, Hernâni. Nós os subversivos do Facebook.
Blogue "Do Tempo da Outra Senhora".
Estremoz, 11 de Setembro de 2010.

 

Décimas dedicadas a Hernâni Matos

pelo poeta popular Xico de São Bento


ÉS ALFAIATE DA PALAVRA


MOTE

És alfaiate da palavra,

Do alinhavar ao cerzir,

É com ela a tua lavra

Para elogiar ou zurzir.

 

Talvez seja genética,

Essa arte de costurar!

A escrever ou a falar,

Não descuidas a fonética

E és bom na dialética.

Escrita também se alinhava,

Senão o texto escalavra.

É preciso ter jeito,

P’ra escrever a preceito

És alfaiate da palavra.

 

Após a obra alinhavada

Com cuidado e atenção,

Passas à execução.

Atentamente verificada

A tarefa fica terminada

E depois de a concluir,

Divulgar e difundir,

Indagar atentamente

Se agrada ao cliente

Do alinhavar ao cerzir.

 

É trabalho fascinante,

Aprazível e libertador

Que exige algum labor,

Mas muito gratificante,

E também contagiante.

Sem o uso da palavra,

Como é que se comunicava?

Como é que a gente fazia

Ou como é que eu te dizia?

É com ela a tua lavra.

 

Que gostes da brincadeira,

É isso o que mais quero,

E ao menos assim espero.

Penso que não disse asneira

Nem te causei canseira.

É a maneira de exprimir,

Sem receio de mentir,

Que é do homem libertação

O uso da opinião

Para elogiar ou zurzir.

 

São Bento do Ameixial, 16/01/2021

Xico de São Bento


Hernâni Matos

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Poesia Portuguesa - 100


Fernando Pessoa (1912). Adolfo Rodríguez Castañé (1887-1978). Óleo sobre tela.

 
Santo António
Fernando Pessoa (1888-1935)
 
Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
 
Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,            
Católico, apostólico e romano.
 
(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João...
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)
 
Adiante ... Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.                                        
 
Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera...
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra coisa.
 
Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.
 
Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.
 
Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.
 
Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza, Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto: é teu amigo,
Ó eterno rapaz.
 
(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? ...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.
 
És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas, ou não coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arraste
Na nora de uns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história,
Que foste tu, ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.
 
És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.
 
És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.
 
Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?
 
Fernando Pessoa (1888-1935)
 
BIBLIOGRAFIA

PESSOA, Fernando. Fernando Pessoa: Santo António, São João, São Pedro. (Organização de Alfredo Margarido). A Regra do Jogo. Lisboa, 1986.

sábado, 26 de janeiro de 2019

Ante-Prefácio de Hernâni Matos ao seu livro "Bonecos de Estremoz"




Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.


António Gedeão (1906-1997)

in poema “Impressão Digital”


Este livro não é um livro de História dos Bonecos de Estremoz. Apesar disso, regista com rigor os principais marcos históricos da sua longa caminhada desde setecentos até aos dias de hoje. Fá-lo de uma forma não fastidiosa, procurando manter uma relação de cumplicidade afectiva com o leitor, para que este não deserte para outras paragens.
Este livro é um livro de estórias. Em primeiro lugar, estórias de vida dos barristas que dão vida aos bonecos. Em segundo lugar, as estórias que os bonecos nos contam, bem como as estórias que possamos urdir e que sejam pré-existentes aos bonecos por cuja génese foram responsáveis. Em terceiro lugar, as estórias de vida do autor, cujos escritos são uma simbiose de duas condições: a de coleccionador e a de investigador da arte popular alentejana. Trata-se de exercícios que pratica numa perspectiva polifacetada, predominantemente artística, antropológica e etnográfica. Se o conseguir também neste livro, tal facto será para si gratificante, pois mais importante que a posse de conhecimentos é a sua partilha com a comunidade, o que assegura a transmissão de saberes.
Tendo o autor exercido o magistério professoral durante 36 anos consecutivos, este livro reflecte as suas preocupações de não dissociar o rigor da escrita da clareza do texto e da motivação que cative o leitor.

Estremoz, Agosto de 2018