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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Galopim de Carvalho, vencedor do Grande Prémio Ciência Viva 2013

Galopim de Carvalho (1931-  ). Imagem recolhida no blogue Biodiversidade

Galopim de Carvalho é o vencedor DO GRANDE PRÉMIO CIÊNCIA VIVA MONTEPIO 2013, que distingue anualmente uma intervenção de mérito na divulgação científica e tecnológica em Portugal. A cerimónia de entrega do Prémio terá lugar a partir das 16 horas do próximo domingo, dia 24 de Novembro no auditório do Pavilhão do Conhecimento, no Parque das Nações, em Lisboa
Galopim de Carvalho, de seu nome completo António Marcos Galopim de Carvalho, é um alentejano de Évora, cidade que o viu nascer em 1931. É Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Ciências Geológicas (1959) e se doutorou em Geologia (1969). Cientista muito popular, ao longo da sua vida foi aquilo que em gíria popular se convencionou chamar um “homem dos sete instrumentos”. Conforme ele próprio confessa: foi carpinteiro, aprendiz de sapateiro, caixeiro de mercearia, ferrou cavalos, alimentou leões no circo, vendou material de escritório e foi delegado de informação médica.
Durante vários anos foi Director do Museu Nacional de História Natural, onde desenvolveu esforços pela divulgação, salvaguarda e valorização do património geológico nacional. É um símbolo nacional da defesa e preservação do património cultural e científico, nomeadamente de sinais marcantes da riquíssima evolução da História Natural. Responsável pelo carinho do público pelos dinossauros, fez “lobby” da questão das esquecidas pegadas da pedreira de Carenque, Sesimbra - Espichel, um dos trilhos mais longos do Cetáceo e conseguiu salvar as pegadas. Ficou desde então conhecido como “O avô dos dinossauros”.
Ao longo da sua vida teve múltiplos “Momentos de Glória”, com especial destaque para a organização da famosa exposição “Dinossáurios regressam a Lisboa” (que contou com 347 000 visitantes em apenas 11 semanas), assim como a defesa de pegadas de dinossauros e a conversão de geomonumentos associados a estruturas museológicas, como é o caso do exomuseu de Santa Luzia, em Viseu.
Dirigiu inúmeros projectos de investigação, de que são exemplo a "Paleontologia dos vertebrados fósseis do Jurássico superior da Lourinhã e Pombal" e "Icnofósseis de dinossáurios do Jurássico e do Cretácico Português".
Dirige e integra variados organismos nacionais e internacionais, designadamente a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO.
Foi colaborador dos Serviços Geológicos de Portugal e trabalhou no Centro de Estudos Geográficos, do Instituto de Geografia da Faculdade de Letras de Lisboa e no Centro de Estudos Ambientais.
Foi consultor científico da RTP para as séries televisivas de divulgação científica na área das Ciências da Terra.
Publicou diversos trabalhos e artigos científicos em revistas nacionais e internacionais das diversas especialidades em que desenvolveu investigação.
É autor de livros científicos na área da das Ciências da Terra, como é o caso de "Morfogénese e Sedimentógénese" (1996), "Petrogénese e Orogénese" (1997), "Introdução à cristalografia e Mineralogia" (1997) e “Geologia Sedimentar -3 volumes (2003-2005-2006), "Dicionário de Geologia" (2011) e "Conversa com os Reis de Portugal (História da Terra e dos Homens)" (2013).
Continua a desenvolver trabalho na área das Ciências da Terra, assumindo-se como um acérrimo defensor do património cultural e científico.
Deu igualmente à estampa grandes êxitos na área da literatura de ficção, com especial relevo para “O Cheiro da Madeira” (1994), “O Preço da Borrega” (1995), “Os Homens não Tapam as orelhas” (1997) e "Com poejos e Outas Ervas" (2001). Neles estão gravadas as marcas indeléveis da identidade cultural alentejana que lhe está na massa do sangue e que aqui nos apraz registar.
Na blogosfera, é autor do blogue Sopas de Pedra e co-autor dos blogues Sorumbático e De Rerum Natura .
Antes de ser distinguido com o Grande Prémio Ciência Viva Montepio (2013), já tinha sido agraciado com o grau de Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada (1993) e distinguido pela Casa da Imprensa com o prémio "Bordalo" para a Ciência (1994).

Para além da entrega a Galopim de Carvalho do Grande Prémio Ciência Viva serão ainda entregues outros dois prémios:
- PRÉMIO CIÊNCIA VIVA MONTEPIO MEDIA, que  distingue um trabalho de mérito excepcional na divulgação da ciência e da tecnologia num órgão de comunicação social português e do qual é vencedor o programa  “Isto é Matemática”, da Sociedade Portuguesa de Matemática, apresentado por Rogério Martins no canal SIC Notícias.
- PRÉMIO CIÊNCIA VIVA MONTEPIO EDUCAÇÃO, que distingue um projecto de educação científica e promoção da cultura científica e tecnológica realizado em escolas portuguesas, atribuído ao Instituto de Educação e Cidadania, na Mamarrosa, fundado e dirigido por Arsélio Pato de Carvalho.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

A balança na Bíblia Sagrada

O prestamista (1664).
Gerrit Dou (1613-1675)
Óleo sobre madeira (29 x 23 cm).
Musée du Louvre, Paris.

O nosso deambular constante sobre por terrenos aparentes estéreis, está na origem de pesquisas e reflexões sobre a balança, o que vai dar origem à publicação sucessiva de posts, cujos títulos são:
- A simbologia da balança
- A balança na Mitologia
- A balança na Bíblia Sagrada
- A balança na Literatura Oral
Começámos por “A balança como instrumento de medida”, a que se segue agora:

A balança na Bíblia Sagrada
São múltiplas as referências bíblicas à balança:
- Se tão-somente pudessem pesar a minha aflição e pôr na balança a minha desgraça! (Jó 6:2)
- Deus me pese em balança justa, e saberá que não tenho culpa. (Jó 31:6)
- Os homens de origem humilde não passam de um sopro, os de origem importante não passam de mentira; pesados na balança, juntos não chegam ao peso de um sopro. (Salmos 62:9)
- Quem mediu as águas na concha da mão, ou com o palmo definiu os limites dos céus? Quem jamais calculou o peso da terra, ou pesou os montes na balança e as colinas nos seus pratos? (Isaías 40:12)
- Na verdade as nações são como a gota que sobra do balde; para ele são como o pó que resta na balança; para ele as ilhas não passam de um grão de areia. (Isaías 40:15)
- Alguns derramam ouro de suas bolsas e pesam prata na balança; contratam um ourives para transformar isso num deus, inclinam-se e o adoram. (Isaías 46:6)
- Assinei e selei a escritura, e pesei a prata na balança, diante de testemunhas por mim chamadas. (Jeremias 32:10)
- Agora, filho do homem, apanhe uma espada afiada e use-a como navalha de barbeiro para rapar a cabeça e a barba. Depois tome uma balança de pesos e reparta o cabelo. (Ezequiel 5:1)
- Como os descendentes de Canaã, comerciantes que usam balança desonesta e gostam muito de extorquir, (Oséias 12:7)
- Quando o Cordeiro abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizer: "Venha!" Olhei, e diante de mim estava um cavalo preto. Seu cavaleiro tinha na mão uma balança. (Apocalipse 6:5)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A balança como instrumento de medida

Fig. 1
Interior - Nazaré (1930). Raquel Roque Gameiro Ottolini (1889 -1970). Aguarela sobre
cartão prensado (39,5 x 37 cm). Museu Nacional  de Arte Contemporânea, Lisboa.

O nosso deambular constante sobre por terrenos aparentes estéreis, está na origem de pesquisas e reflexões sobre a balança, o que vai dar origem à publicação sucessiva de posts, cujos títulos são:
- A balança como instrumento de medida
- A simbologia da balança
- A balança na Mitologia
- A balança na Bíblia Sagrada
- A balança na Literatura Oral
Comecemos por:

A balança como instrumento de medida
A antiguidade da balança é testemunhada por inúmeros documentos, que levam a acreditar que o seu uso seja coevo das primeiras transacções comerciais. Uma coisa, porém, é certa: os egípcios já conheciam a balança. A Fig. 2, pertencente a um papiro do “Livro dos Mortos”, da XVIII dinastia (c.1550 a.C.- c.1295 a.C.), conservado no Museu de Turim, mostra a utilização de uma balança. Aí podemos ver Anúbis pesando o coração de uma sacerdotisa. O órgão foi posto no prato da esquerda, enquanto que no prato da direita está uma figura que representa a Verdade. No alto da balança o deus Thoth, tendo a aparência de um babuíno, anota o resultado da pesagem.

Fig. 2

Sob um ponto de vista físico, uma balança é um instrumento de medida usado na determinação do peso dos corpos e que tem por órgão essencial uma “alavanca interfixa”, a qual está esquematizada na Fig. 3:

Fig. 3

Na imagem estão esquematizados os pesos aplicados aos braços da balança e as respectivas distâncias ao ponto de assentamento, chamado “fulcro”. A condição de equilíbrio da alavanca interfixa é:


Por outras palavras: os pesos aplicados aos braços da balança são inversamente proporcionais às distâncias a que se encontram relativamente ao fulcro.
As balanças mecânicas podem ser de braços suspensos ou de braços apoiados e ter braços iguais ou desiguais, sendo certo que as balanças mecânicas mais antigas são balanças de pratos suspensos e iguais, conhecidas por “balanças ordinárias” (Fig. 4). Eram estas as balanças usadas outrora, correntemente, nos mercados, talhos, peixarias, mercearias, drogarias, farmácias e ourives. 

Fig. 4 (1)

A balança ordinária compõe-se duma alavanca interfixa chamada travessão, móvel em torno dum eixo oscilação horizontal, localizado no meio e constituído por um cutelo de aço, apoiado sobre duas peças planas bem polidas, de aço ou de ágata.
Nas extremidades A e B do travessão estão fixos dois cutelos com as arestas viradas para cima, sobre os quais se apoiam os ganchos que suportam os pratos destinados a receber os corpos ou os pesos marcados. O travessão sustenta ainda no meio uma agulha, apelidada “fiel”, que é perpendicular à linha do travessão e ao eixo de oscilação, podendo deslocar-se para um e outro lado duma linha de fé localizada numa escala graduada localizada por cima ou por baixo do travessão.
As arestas dos três cutelos A, B e C (Fig. 5) são paralelas e situam-se no mesmo plano. Supondo-as reduzidas a três pontos e em linha recta, daremos a esta linha o nome de “linha do travessão” e o de “braços do travessão” às distâncias CA e CB. 

 Fig. 5 (1)

Para efectuar uma pesagem simples, o método vulgar baseia-se em colocar o corpo que se pretende pesar num dos pratos e pesos marcados no outro, até que o travessão fique em equilíbrio na posição horizontal, o que se reconheça por a agulha coincidir com a linha de fé (zero da escala). Efectua-se seguidamente a soma dos pesos marcados, tomando-se esta soma como resultado do peso do corpo.
Para que o resultado obtido numa pesagem seja exacto é preciso que a balança seja “justa” e sensível”. Uma balança é “justa” se o travessão se mantém horizontal quando nos pratos são colocados pesos iguais, o que exige a verificação das seguintes condições: 1º) Os braços do travessão e os pratos devem ser rigorosamente iguais; 2º) Os pontos de suspensão dos pratos devem ficar a distâncias constantemente iguais do eixo do travessão, qualquer que seja a sua posição; 3º) Quando o travessão está horizontal, o centro de gravidade do sistema móvel deve situar-se na vertical do ponto de suspensão e por baixo dele. Na prática, verifica-se se uma balança é “justa”, observando cumulativamente os seguintes factos: 1º) O fiel da balança fica no zero da escala quando o travessão não suporta os pratos; 2º) O fiel da balança fica no zero da escala quando o travessão suporta os pratos; 3º) O fiel da balança fica no zero da escala quando se permutam os pesos colocados originariamente em cada um dos pratos.
Por outro lado, verifica-se se uma balança é “sensível”, colocando pequenos pesos nos pratos e observando se a balança oscila. Diz-se, por exemplo que uma balança é sensível ao miligrama, quando esta oscila pela adição deste peso a um dos pratos.  
Qualquer balança admite uma carga máxima, correspondente ao valor dos pesos que os pratos podem suportar, sem que ocorra deterioração dos cutelos ou flexão sensível no travessão.

BIBLIOGRAFIA
(1) - NOBRE, Francisco Ribeiro. Tratado de Física Elementar (23ª edição). Lello & Irmão, Lda. Porto, 1929.


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Adagiário do frio


Mulher da azeitona de Estremoz. Ilustração de Cesar Abbott.
Bilhete-postal ilustrado edição Centro de Novidades (Porto, 1942).

O QUE É O FRIO
O Inverno é caracterizado por baixas temperaturas, responsáveis por sentirmos frio. Este é uma sensação fisiológica contrária à sensação de calor e está associado às baixas temperaturas.
É sabido da Física que pelo “Princípio Fundamental da Calorimetria”, “Quando se põem em contacto dois corpos a temperaturas diferentes, o mais quente arrefece e o mais frio aquece, até ficarem ambos à mesma temperatura”. Por isso no Inverno, como o meio ambiente está a uma temperatura inferior à do nosso corpo, este tende a perder calor por irradiação a favor do meio ambiente, o que se traduz num abaixamento da temperatura do nosso corpo. Por isso sentimos frio. No Verão é exactamente o contrário, pois o meio ambiente está a uma temperatura superior à do nosso corpo, pelo que tende a perder calor por irradiação a favor do nosso corpo, pelo que a temperatura deste aumenta. Daí sentirmos calor.

TRAJE POPULAR ALENTEJANO
Para nos protegermos do frio usamos vestuário, que funciona como barreira à perda de calor corporal, por isolamento térmico. O traje popular alentejano assegurava sabiamente esse isolamento.
O camponês alentejano usava barrete na cabeça que lhe protegia as orelhas do frio, ao contrário do chapéu. Usava ainda pelico ou samarra de pele de borrego ou de ovelha e por baixo destes, sucessivamente colete, camisola e camisa. Uma cinta cingia a cintura. Nas pernas, safões de pele de ovelha ou de borrego. Por baixo, sucessivamente calças de saragoça forte e ceroulas de flanela. Podia ainda cobrir-se ou transportar ao ombro uma espessa, pesada e quente manta alentejana, fabricada em centros com tradições tecelãs (Reguengos de Monsaraz, Mértola, Castro Verde, Grândola, Almodôvar e Serpa.). Nos pés, sapatos grossos de atanado com polainas ou botas caneleiras ou joelheiras e por baixo destas, grossas meias de lã. Assim trajavam pastores e ganhões durante a jorna (lavrar, charruar, cavar, podar). Terminada esta e em certas circunstâncias podiam usar capote de saragoça ou de burel.

Maioral e ajuda, figuras da pastorícia alentejana, no início do séc. XX.
Bilhete-postal ilustrado edição Malva (Lisboa).

Pastor alentejano.
Aguarela de Alberto de Souza (1880-1961), pintada em 1935. 

Pastor (Início do séc. XX).
Bilhete-postal ilustrado edição de Faustino António Martins (Lisboa). 

Um campónio alemtejano em dia de festa.
Bilhete-postal ilustrado edição Costa (Lisboa).

As camponesas alentejanas que participavam na apanha da azeitona e na monda, usavam uma saia forte, atada em forma de calças, a fim de facilitar o trabalho. Nas pernas, grossas meias de lã e nos pés sapatos fortes de atanado. No tronco, para além da roupa interior, camisa, blusa de malha e xaile. Nos braços, mangueiras de um tecido barato, visando proteger as mangas da blusa durante o trabalho. A cabeça era protegida por um lenço, atado atrás. Por cima do lenço usavam um chapéu de feltro.

ADAGIÁRIO DO FRIO
É diversificado e vasto o adagiário português, onde é utilizada explicitamente a palavra frio. Até à presente data recolhemos 100 adágios sobre o frio, os quais foram sistematizados, conforme adiante se indica.
  
Existem indícios do frio:
- Quando a candeia chora, está o frio fora; quando ri está o feio para vir.
O frio tem determinadas consequências:
- A chuva e o frio metem a lebre a caminho. (1)
- A fome e o frio metem um homem em casa do inimigo. (2)
- A fome e o frio nunca criaram infante.
- A fome e o frio obrigou-o a fazer as pazes com o tio.
- Dá-lhes frio e sequidão que as terras te gearão
- Fome e frio fazem o gado galego. (3)
- Frio e fome não fazem bom cabelo.
- Frio, focinho e bico, não fazem ninguém rico.
- Manhã fria traz bom dia.
- Norte frio, água no rio.
- Um dia frio e outro quente, põem o homem doente. (4)
Nem tudo é consequência do frio:
- Frio não quebra osso e chuva não quebra costela.
O frio pode ser um mal menor:
- Antes frio e geada que chuva porfiada.
- Não temam o frio nem a geada, mas a chuva porfiada. (5)
O frio pode ser superado:
- Quem tem brio não tem frio.
- Frio a valer, trabalhar para aquecer.
- Quem não anda por frio e por sol não faz seu prol.
O frio pode ser uma livre opção:
- Pai com frio, filho com cobertor.
Existem relações do frio com o calor:
- O que tapa o frio tapa o calor.
- Calma em tempo frio traz molhado. (6)
-  Calor em tempo frio, chuva por castigo. (7)
O frio é medido fisiologicamente por órgãos anatómicos animais ou humanos:
- Frio como nariz de cão. (8)
O frio está indissociavelmente relacionado com o vestuário:
- A cada qual dá Deus o frio conforme o vestido. (9)
- Cada um sente o frio, conforme a coberta. (10)
- Dá Deus roupa segundo o frio.
A sanidade exige o equilíbrio entre o frio e o calor:
- A saúde é a justa medida entre o calor e o frio.
O frio pode gerar o ruído:
- O bácoro, a fome e o frio, fazem grande ruído.
- Porcos com frio e homens com vinho fazem grande ruído.
O frio está patente no adagiário dos meses:
- Bom tempo no Janeiro e mau no estio, bom ano de fome, mau ano de frio.
- Chuva em Janeiro e não frio, dá riqueza no estio. (11)
- Janeiro frio e molhado não é bom para o gado.
- Janeiro frio e molhado, enche a tulha e farta o gado.
- Janeiro frio ou temperado, passa-o enroupado. (12)
- Janeiro geoso, Fevereiro nevoso. Março frio e ventoso, Abril chuvoso e Maio pardo, fazem um ano abundoso.
- Em Fevereiro neve e frio, é de esperar calor no estio.
- Em Fevereiro, frio ou quente, chova sempre.
- Fevereiro, fêveras de frio e não de linho. (13)
- Abril frio e molhado, enche o celeiro e o gado. (14)
- Abril frio, pão e vinho. (15)
- Frio de Abril as pedras vai ferir. (16)
- Maio frio e Junho quente fazem o lavrador valente.
- Maio frio e Junho quente: bom pão, vinho valente. (17)
- Maio frio e ventoso, faz o ano formoso.
- Em Junho, frio como punho.
- Agosto, frio em rosto. (18)
- Em Agosto passa o frio pelo rosto.
- Ande o frio onde andar, no Natal cá vem parar. (19)
- Ande o Natal por onde andar, que ele o frio há-de ir buscar.
- Dezembro com Junho ao desafio, traz Janeiro frio.
- Dezembro frio, calor no estilo.
- Em Dezembro treme de frio cada membro. (20)
O frio pode constituir uma qualidade:
- A água é fria, mas mais é quem com ela convida.
- A faneca, com três efes: fresca, fria e frita.
Há actos que devem ser praticados a frio:
- A vingança é um prato que se come frio.
- O caldo quente e a injúria em frio.

.....................

(1) Variante:
- A fome e o frio faz vir a lebre ao caminho.
(2) Variantes:
- Fome e frio entregam o homem ao seu inimigo.
- A fome e o frio fazem o homem acolher-se à casa do inimigo.
- Fome e frio metem a pessoa com seu inimigo.
- Fome e frio te fará meter com teu inimigo.
(3) Variantes:
- A fome e o frio fazem o gado galego.
- Fome, frio e mau trato, fazem o gado galego.
- O frio e a fome fazem o gado galego.
(4) Variantes:
- Dia frio e dia quente, fazem andar o homem doente.
- Dia frio e outro quente, faz o homem doente.
(5) Variante:
- Não hei medo ao frio nem à geada, senão á chuva porfiada.
(6) Variante:
- Calma em tempo frio traz molhado; frio em tempo molhado, traz resfriado.
(7) Variante:
- Calor em tempo frio, trá-lo molhado.
(8) Variantes:
- Calcanhar de homem, cu de mulher e focinho de cão, nunca sentem o Verão.
- Calcanhar de homem, cu de mulher e nariz de cão, três coisas frias são.
- Cu de mulher e nariz de cão, nunca conheceram Verão.
- Há duas coisas que não conhecem Verão: rabo de mulher e focinho de cão.
- Nariz de cão, cu de mulher e mãos de barbeiro, frios como gelo.
- Nariz de cão e cu de gente, nunca está quente.
- Nariz de cão e cu de mulher estão sempre frios.
(9) Variantes:
- A cada um dá Deus o frio conforme a roupa, mas mais a quem tem pouca.
- A cada qual dá Deus o frio conforme a roupa.
- A cada qual dá Deus o frio conforme anda vestido.
- Dá Deus o frio conforme a roupa.
- Deus dá o frio conforme a roupa.
(10) Variante:
- Cada um sente o frio, como anda vestido.
(11) Variante:
- Chuva de Janeiro e não frio, vai dar riqueza ao estio.
(12) Variante:
- Janeiro frio ou temperado, não deixa de ir enroupado.
(13) Variante:
- Em Fevereiro, febras de frio e não de linho.
- Em Fevereiro, fibras de frio e não de linho.
(14) Variante:
- Abril frio e molhado, enche celeiro e farta o gado.
(15) Variantes:
- Abril frio, traz pão e vinho.
- Abril frio, ano de pão e vinho.
(16) Variante:
- Frio de Abril, nas pedras vá ferir.
(17) Variante:
- Maio frio, Junho quente, bom pão, vinho valente.
(18) Variante:
- Agosto, frio no rosto.
(19) Variantes:
- Ande o frio por onde andar que o Natal o irá buscar.
- Ande o frio por onde andar, ao Natal há-de vir parar.
- Ande o frio por onde andar, no Natal cá vem parar.
- Ande o frio por onde andar, o Natal o vai buscar.
- Ande o frio por onde andar, pelo Natal cá vem parar.
- Ande o frio por onde andar, pelo Natal há-de chegar.
(20) Variante:
- Em Dezembro treme o frio em cada membro.
(21) Variante:
- O caldo em quente, a injúria em frio.

Texto publicado inicialmente em 25 de Outubro de 2012

sábado, 23 de junho de 2012

Alavanca interfixa

CRIANÇAS NO BALOIÇO (séc. XVIII). Painel de azulejos portugueses no Museu do Açude
(Rio de Janeiro), antiga residência de Verão de Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968), empresário, mecenas coleccionador que deixou um legado de 22.000 obras de arte.

A figura mostra duas crianças a brincarem num baloiço constituído por um tronco apoiado no tronco de outra árvore abatida. A brincadeira consiste em andarem alternadamente para cima e para baixo, graças ao impulso que cada um delas alternadamente imprime.
Quando a criança da esquerda dá um impulso com os pés, é ela que sobe, enquanto que a criança da direita, desce. Quando esta bate com os pés no chão, dá um impulso que a faz subir, ao mesmo tempo que a criança da esquerda desce e assim sucessivamente até a brincadeira acabar.
Para a brincadeira resultar, quando estão parados, o tronco onde estão sentados tem que estar em equilíbrio. Se eles tiverem o mesmo peso,têm que se sentar à mesma distância do ponto de apoio (fulcro) do tronco onde estão sentados. Caso contrário, aquele que for mais pesado tem que ficar mais próximo do ponto de apoio, ao passo que o que for mais leve tem que ficar mais afastado desse ponto.
O “baloiço” constitui um exemplo daquilo que em Física se chama “alavanca interfixa”, a qual está esquematizada na figura seguinte:


Na figura estão esquematizados os pesos das crianças e as respectivas distâncias ao fulcro. A condição de equilíbrio da alavanca interfixa é:


Por outras palavras: os pesos das crianças são inversamente proporcionais às distâncias a que estas estão sentadas relativamente ao fulcro, o que está de acordo com a análise do movimento expressa na imagem do painel azulejar aqui mostrado.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Arco-Íris


Políptico do Julgamento Final (1448-1451).
Rogier van der Weyden (c. 1399-1464).
Óleo sobre tela (215 × 560 cm).
Hôtel-Dieu of Beaune, France.

Iconografia do arco-íris
O "arco-irís” foi desde tempos remotos um tema abordado pelos grandes nomes da pintura universal, dos quais destacamos, associados por épocas/correntes da pintura:
- RENASCENÇA: Rogier van der Weyden (c. 1399-1464), flamengo; Michel Wolgemut (1434 - 1519), Wilhelm Pleydenwurff. (c. 1460-1494), Albrecht Dürer (1471–1528), todos eles alemães.
- BARROCO: Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), flamengo; Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), flamengo; Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), flamengo; Jan Siberechts (1627-c.1703), flamengo; Autor desconhecido (c. 1714); Joseph Wright (1734-1797), inglês.
- RÓCÓCÓ: Jacob Cats (1741-1799), holandês.
- ROMANTIISMO: Joseph Anton Koch (1768-1839), austríaco; Joseph Anton Koch (1768-1839), austríaco; Joseph Mallord William Turner (1775-1851), ingles; John Constable (1776–1837), inglês;
- NEOCLASSICISMO: Pierre-Narcisse Guérin (1774-1833), francês.
- REALISMO: Károly Markó, o Velho (1822-1891), húngaro; John Everett Millais (1829–1896), inglês.
Trata-se em geral de paisagens onde se observam condições propícias à produção de arco-íris ou então cenas religiosas que têm a ver com o Julgamento Final ou o Dilúvio (Génesis, 9).

Ilustração da Crónica de Nuremberg (1493).
Ilustradores: Michel Wolgemut (1434 - 1519),
 Wilhelm Pleydenwurff. (c. 1460-1494).
Texto: Hartmann Schedel (1440 - 1514). 
Melancolia Imaginativa (1514).
Albrecht Dürer (1471–1528).
Gravura com placa de cobre.
British Library, London. 
Paisagem com Arco-Íris (1632-35).
Pieter Pauwel Rubens (1577-1640).
Óleo sobre tela (86x130 cm).
The Hermitage, St. Petersburg. 
Paisagem com Arco-Íris (c. 1636).
Pieter Pauwel Rubens (1577-1640).
Óleo sobre painel.
Alte Pinakothek, Munich. 
Paisagem com Arco-Íris (c. 1638).
Pieter Pauwel Rubens (1577-1640).
Óleo sobre painel (136x236 cm).
Wallace Collection, London. 
Paisagem com Arco-Íris, Henley-on-Thames (c. 1690).
Jan Siberechts (1627-c. 1703).
Óleo sobre tela (82,5x103 cm).
Tate Gallery, London. 
 Santelmo Socorrendo os Náufragos (c. 1714).
Autor desconhecido.
Óleo sobre tela.
Capela do Palácio do Corpo Santo, em Setúbal.
Paisagem com Arco-Íris (c. 1795).
Joseph Wright (1734-1797).
Óleo sobre tela (81x107 cm).
Derby Museum and Art Gallery, Derby. 
Paisagem de Outono com Arco-Íris (1779).
Jacob Cats (1741-1799).
Aguarela e caneta (334x415 mm).
Rijksmuseum, Amsterdam. 
Paisagem Heróica com Arco-Íris (1815).
Joseph Anton Koch (1768-1839).
Óleo sobre tela (188x171 cm).
Neue Pinakothek, Munich. 
Joseph Mallord William Turner (1775 1851).
Castelo Arundel no Rio Arun, com um arco-Íris (c. 1824-5).
Aguarela sobre papel (161x230 mm).
Collection Tate, England. 
Catedral de Salisbúria vista dos prados (1831).
John Constable (1776–1837).
Oil on canvas (151,8 cm×189,9 cm).
National Gallery, London. 
Paisagem Italiana com Viaduto e Arco-Íris (1838).
Károly Markó, o Velho (1822-1891).
Óleo sobre tela (75x100 cm).
Colecção privada. 
Heidelberg com um Arco-Íris (c. 1841).
Joseph Mallord William Turner (1775 1851).
Aguarela sobre papel (311x521 mm).
Colecção privada. 
A Rapariga Cega (1856).
John Everett Millais (1829–1896).
Óleo sobre tela.
Birmingham Museum and Art Gallery

O arco-íris na Mitologia e na Bíblia
Na Mitologia Greco-Latina, o arco-íris era considerado o rasto deixado pela deusa Íris, que era a mensageira dos deuses e, em particular, de Zeus e de Hera. Tinha por função estabelecer a ligação entre a Terra e o Céu, entre os deuses e os homens.
Morfeu e Íris (1811).
Pierre-Narcisse Guérin (1774-1833).
Óleo sobre tela (251x178 cm).
The Hermitage, St. Petersburg.
De acordo com a tradição bíblica, o arco-íris foi apelidado por Deus como "arco-da-aliança". No décimo sétimo dia do sétimo mês, após o Dilúvio, a arca de Noé encalhou sobre os montes de Ararat (Génesis 8,4) e Deus anunciou que nunca mais iria inundar a Terra e depois de chover, o seu arco apareceria nas nuvens e esse seria o símbolo da aliança estabelecida entre Ele todas as criaturas que estão na Terra. De acordo com Génesis, 9:
8. Disse também Deus a Noé e a seus filhos:
9. “Vou fazer uma aliança convosco e com vossa posteridade,
10. assim como com todos os seres vivos que estão convosco: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, desde todos aqueles que saíram da arca até todo animal da terra.
11. Faço esta aliança convosco: nenhuma criatura será destruída pelas águas do dilúvio, e não haverá mais dilúvio para devastar a terra.”
12. Deus disse: “Eis o sinal da aliança que eu faço convosco e com todos os seres vivos que vos cercam, por todas as gerações futuras:
13. Ponho o meu arco nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra.
14. Quando eu tiver coberto o céu de nuvens por cima da terra, o meu arco aparecerá nas nuvens,
15. e me lembrarei da aliança que fiz convosco e com todo ser vivo de toda espécie, e as águas não causarão mais dilúvio que extermine toda criatura.
16. Quando eu vir o arco nas nuvens, eu me lembrarei da aliança eterna estabelecida entre Deus e todos os seres vivos de toda espécie que estão sobre a terra.”
17. Dirigindo-se a Noé, Deus acrescentou: “Este é o sinal da aliança que faço entre mim e todas as criaturas que estão na terra.”

Paisagem com as ofertas de Noé (c. 1803).
Joseph Anton Koch (1768-1839).
Óleo sobre tela (86×116 cm).
Städelsches Kunstinstitut und Städtische Galerie, Frankfurt am Main.

A Física do arco-íris
O arco-íris é um fenómeno óptico causado pela dispersão da luz do Sol que sofre refracção nas gotas de chuva, que são aproximadamente esféricas ou então próximo de quedas de água. A luz sofre uma refracção inicial quando penetra na superfície da gota de chuva, aproximando-se da normal ao ponto de incidência, uma vez que passa dum meio opticamente menos denso (ar) para um meio opticamente mais denso (água). Dentro da gota, a luz sofre reflexão interna total, voltando agora a sofrer nova refracção ao sair da gota. Como a luz transita agora dum meio opticamente mais denso (água) para um meio opticamente menos denso (ar), a luz afasta-se da normal ao ponto de emergência. O resultado final é que a luz branca do sol, que é uma luz composta de luz de diferentes cores (comprimentos de onda ou frequências), ao emergir das gotas aparece decomposta num espectro de sete cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. A luz violeta é mais desviada que a luz vermelha, mas é esta que aparece mais alta no ceu e constitui a cor mais externa do arco-íris.

Mecanismo de dispersão da luz do sol numa gota de águ
(Imagem retirada da Wikipédia)

O arco-íris não existe num local determinado do céu. Trata-se de uma ilusão de óptica cuja posição aparente depende da posição do observador. Ainda que todas as gotas de chuva refractem e reflictam a luz do sol de igual maneira, apenas a luz de algumas chega até o olho do observador. Estas gotas são compreendidas como o arco-íris para aquele observador. A sua posição é sempre na direcção oposta do Sol em relação ao observador, sendo o seu interior uma imagem aumentada do Sol, ligeiramente menos brilhante que o exterior. Quanto ao arco em si, ele é centrado na sombra do observador, aparecendo num um ângulo de aproximadamente 40°– 42° com a linha entre a cabeça do observador e sua sombra Por isso, se o Sol está mais alto que 42°, o arco-íris fica abaixo do horizonte e não pode ser visto, a menos que o observador esteja no topo de uma montanha ou num aeroplano. Neste último é possível ver o círculo completo do arco-íris, centrado na sombra do avião.
Os arco-íris podem ser visualizados com diferentes tamanhos porque, o que depende do ângulo de visão. Se perto do arco-íris existirem objectos longínquos, como montanhas, o arco-íris parecerá maior. Se pelo contrário, estiver perto de objectos mais próximos, parecerá menor.
Por vezes, um segundo arco-íris mais fraco é visto no exterior do arco-íris principal, o que é devido a uma dupla reflexão da luz do sol nas gotas de chuva, aparecendo num ângulo de 50°–53°. Devido a esta reflexão extra, as cores do arco passam a ter posições invertidas em relação às do arco-íris principal, com o azul no lado exterior e o vermelho no interior.