domingo, 17 de setembro de 2017

FRANCO-ATIRADOR. Textos de cidadania de um alentejano de Estremoz.


Aspecto da assistência. Fotografia de Luís Guimarães.

O EVENTO EM SI

Pelas dezasseis horas do passado dia 2 de Setembro, teve lugar na Igreja dos Congregados, em Estremoz, o lançamento e apresentação do livro “FRANCO-ATIRADOR. TEXTOS DE CIDADANIA DE UM ALENTEJANO DE ESTREMOZ”, evento que contou com a participação de mais de uma centena de pessoas.
O painel de apresentação do autor e do livro foi constituído por Fernando Mão de Ferro (da editora Colibri), Hernâni Matos (autor), Francisca Matos (prefaciadora), António Júlio Rebelo (posfaciador) e Armando Alves (autor da capa), tendo-se registado intervenções dos quatro primeiros.
No local esteve ainda patente ao público uma exposição de exemplares de figurado e de arte conventual de Estremoz, referidos no livro.

PALAVRAS DO AUTOR

MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES:

Procurarei ser breve, tanto quanto possível. Começarei pelos agradecimentos.
Em primeiro lugar, quero agradecer ao Pároco de Santo André Dr. Fernando Afonso, ter-me possibilitado a apresentação do livro na Igreja dos Congregados, que além de estar situada no centro da cidade é um espaço excelente, já que é amplo, com muita dignidade e onde se respira espiritualidade. Tudo isso são factores favoráveis à apresentação do livro neste local. Mas há duas outras razões e qualquer delas tem a ver com o exercício da cidadania, que é o tema central do meu livro.
Em 1º lugar, a atitude de resistência dos frades oratorianos que em 1808, no decurso da 1ª invasão francesa, esconderam no Convento dos Congregados, a imagem da Rainha Santa Isabel trazida da sua Capela no Castelo e que assim escapou ao saque dos franceses.
Em 2º lugar, a Igreja dos Congregados incompletamente construída nos anos 60 do séc. XX, simboliza a determinação da comunidade local em ressarcir a Paróquia de Santo André do derrube da Igreja homónima, a mando do Estado Novo, que acabaria por morrer de velho.
São factos importantes no meu registo de memória e que por isso constam no livro. Este, insere entre outros os seguintes textos profusamente ilustrados:
- Senhor Jesus dos Passos de Estremoz
- As Festas da Exaltação da Santa Cruz de 1963
- Rainha Santa Isabel, Padroeira de Estremoz
- Santo António na Tradição Popular Estremocense
Daí que à semelhança do que aconteceu em 2012 com o lançamento do livro anterior, me tenha lembrado de expor na Igreja dos Congregados, exemplares de figurado e de arte conventual de Estremoz, referidos naqueles textos.
Como artesão das palavras foi a maneira encontrada de fazer ponte com artesãos do barro e da arte conventual que são os melhores embaixadores desta terra transtagana, aquém e além fronteiras. Também eles, vivos ou finados, são heróis que exalto ao longo do livro, pelo fascínio que exercem em mim, as técnicas ancestrais que dominam e lhe brotam miraculosamente à flor das mãos.
Em segundo lugar, quero agradecer ao editor Fernando Mão de Ferro da Colibri, editora prestigiada que tem um projecto editorial com o qual me identifico. Foi a ele que submeti para apreciação o projecto de edição do presente livro, o qual foi aceite. Daí estarmos hoje aqui.
Em terceiro lugar, quero agradecer ao pintor Armando Alves, amigo de longa data e figura cimeira da cultura nacional e com obra espalhada pelas sete partidas do Mundo. “Armando Alves, Inventor de Céus e Planícies” no dizer de José Saramago, está indissociavelmente ligado à História das Artes Plásticas em Portugal e revolucionou as Artes Gráficas. Uma capa do Armando é uma obra de arte. Daí que lhe tenha pedido para criar a capa, ao que ele acedeu sem hesitação alguma. O resultado é bem conhecido e nele está magistralmente expresso o Alentejo vermelho das terras de barro de Estremoz, gravado não só na sua como na nossa alma e, que sob a direcção atenta e calorosa do seu olhar de visionário, as suas mãos sabem com mestria transmitir a tudo aquilo que faz. A capa do Armando elevou o livro a uma dimensão superior àquela que já tinha. Estou-lhe infinitamente grato por isso.
Em quarto lugar, quero agradecer aos professores Francisca de Matos e António Júlio Rebelo, duas figuras prestigiadas da comunidade local, bem conhecidas nos meios culturais. São também amigos de longa data, companheiros de trilhos culturais, com os quais é gratificante caminhar. Tanto um como o outro me conhecem bem e à minha escrita. Daí que tenha sido inescapável convidá-los a prefaciar e a posfaciar o meu livro. À semelhança da capa do Armando, também o prefácio da Francisca de Matos e o posfácio do António Júlio Rebelo elevaram o livro a uma dimensão superior àquela que já tinha. Também a eles estou infinitamente grato por isso e à Francisca de Matos também a revisão apurada e meticulosa do texto.
Em quinto lugar, quero agradecer a presença de todos vós, a qual é para mim gratificante e me dá estímulo para continuar.

Permitam-me agora falar um pouco de mim e do livro.

Como cidadão tenho uma visão multifacetada do mundo e da vida, que me leva a interpretar a realidade sob múltiplos ângulos interdisciplinares, na procura assimptótica da verdade. A minha amiga Francisca Matos disse-me um dia: - “Nunca se sabe para onde é que o Hernâni vai disparar!”. De facto, tenho um espectro largo de interesses pessoais, os quais estão na origem das temáticas abordadas serem diversificadas e muitas vezes, uma síntese dialéctica das mesmas.
Na escrita assumi-me como franco-atirador, que como sabem é um atirador de precisão. As minhas armas são os abastados arsenais da minha memória e da minha biblioteca e arquivo pessoais, a que acresce a pesquisa incessante, a exigência de rigor e a minha maneira própria de dizer as coisas.
Como franco-atirador do pensamento e da acção, os meus disparos não são previsíveis, nem sequer condicionáveis e muito menos controláveis. No texto “Que farei com esta coluna?” inserido no livro, proclamo que: “Um franco-atirador é como um cavalo à rédea solta que cavalga em sintonia com a campina, por necessidade telúrica e onírica de exercitar a liberdade. Legitima-me a força da razão que emana da Terra-Mãe, do espírito dos antepassados e da missão inescapável de passar o testemunho.”
Como escritor, jornalista e blogger, utilizo a escrita como instrumento ao serviço do exercício do direito de cidadania. Os meus textos constituem reflexões sobre problemas individuais e sociais, visando potenciar uma tomada de consciência por parte daqueles com quem interactuo, numa perspectiva de gerar dinâmicas de intervenção e transformação social que tenham como referência os direitos humanos.
O livro agora dado à estampa, constitui uma compilação seleccionada de textos do período 1998-2017. São escritos que foram publicados na imprensa local e no blogue “Do Tempo da Outra Senhora”, bem como em catálogos de exposições, assim como textos utilizados na apresentação de livros e como comunicações em sessões de índole diversa, para as quais fui convidado. Cada texto está perfeitamente identificado não só em termos de temporalidade, como no que respeita a local de publicação ou divulgação.
Os jornais desaparecem com o tempo e ficam confinados aos arquivos de bibliotecas e de editores. Daí ser importante compilar textos jornalísticos em livro, o qual assegura a perpetuidade dos textos, que assim servem para memória futura do que foi uma época.
O tema central do livro é o exercício da cidadania nos seus múltiplos aspectos por parte de um português, que tem a particularidade de ser um alentejano de Estremoz.
Por uma questão de metodologia os textos foram sistematizados e ordenados em seis grandes capítulos que designei sucessivamente por: Da Identidade, Das Palavras, Da Sociedade, Do Património, Da Cultura, Da Memória.
“Da Identidade” reúne textos que têm a ver com a minha matriz identitária como português, alentejano e estremocense. “Das Palavras” congrega textos que são reflexões sobre o acto de criação do texto literário e do texto jornalístico, bem como sobre a deturpação da escrita, não só devido a “gralhas” como a modificação indevida de textos na redacção, sem autorização prévia do autor. “Da Sociedade” junta textos de crítica social e política, tanto a nível local como a nível nacional. “Do Património” agrega textos referentes à defesa do património cultural, material e imaterial a nível local.”Da Cultura” é uma compilação de textos da área cultural relativos à minha actividade neste domínio. “Da Memória” é integrado por textos “in memorian” de figuras destacadas da comunidade que já partiram e cuja evocação me é grata. 
A escrita vale por ela própria e por isso o livro foi inicialmente concebido sem ilustrações. Porém, a dada altura, pensei que seria positivo ilustrá-lo com imagens de Estremoz do passado, maioritariamente pertencentes ao meu arquivo pessoal. Em boa hora o fiz, porque o público é diversificado e a visualização de imagens reforça o conteúdo do livro, que todavia não fica refém delas.
O livro foi dedicado à Memória de Francisco Joaquim Batista (Chico das Metralhadoras), velho republicano que me iniciou no exercício dos direitos de cidadania. Foi também dedicado a Manuel Madeira (Cachila) cineasta e amigo de juventude que incentivou em mim o gosto pela escrita.
A partir de agora este livro é também vosso. Desejo-vos que tenham tanto prazer na sua leitura, como eu tive em redigir cada texto.
Obrigado a todos pela vossa amizade e também pela vossa presença.
Bem hajam!

 Painel de apresentação do autor e do livro. Fotografia de Maria Helena Figueiredo.
 Aspecto da assistência. Fotografia de Luís Guimarães.
 Aspecto da assistência. Fotografia de Luís Guimarães.
Aspecto da assistência. Fotografia de Luís Guimarães.
 Aspecto da assistência. Fotografia de Luís Guimarães.
 Aspecto da assistência. Fotografia de Pedro Fortunas.
 Aspecto da assistência. Fotografia de Pedro Fortunas.
 O autor autografando exemplares da obra. Fotografia de Pedro Fortunas.
 Aspecto da assistência. Fotografia de Pedro Fortunas.
Aspecto da cúpula da Igreja dos Congregados. Fotografia de Pedro Fortunas.
 Exemplares de figurado e de arte conventual de Estremoz, referidos no livro.
Fotografia de Pedro Fortunas.
Exemplares de figurado e de arte conventual de Estremoz, referidos no livro.
Fotografia de Pedro Fortunas.

Video de apresentação do livro. Realização de Pedro Fortunas.

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