quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Maria de Santa Isabel - Um nome que falta na toponímia estremocense


Maria de Santa Isabel (1910-1992)

O contexto familiar
Em 16 de Abril de 2010 teve lugar o I Centenário do Nascimento de Maria Palmira Osório de Castro Sande Meneses e Vasconcellos Alcaide (16/04/1910-13/01/1992), grande poetisa estremocense, conhecida por Maria de Santa Isabel.
Era filha de Ruy Sande Menezes Vasconcellos, proprietário, natural de Estremoz e de Maria Ana de Souza Coutinho Osório de Castro, doméstica, natural de Mangualde.
O seu avô paterno, Alberto de Castro Osório (1868-1946) foi juiz, político, escritor e poeta.
A sua tia-avó, Ana de Castro Osório (1872-1935), grande paixão do poeta Camilo Pessanha (1867-1926), foi escritora, jornalista, pedagoga, feminista, maçónica e militante republicana.
O poeta Mário Pires Gomes Beirão (1890-1965) foi parente de Maria Palmira.
O avô, a tia-avó e o parente frequentavam a Casa da Horta Primeira na Rua da Levada em Estremoz, onde Maria Palmira vivia com os pais e via a mãe a pintar. Foi num ambiente familiar artístico-literário que Maria Palmira cresceu a ouvir poesia, o que modelou o seu espírito e a sua sensibilidade de poetisa e contribuiu para que a poesia passasse a preencher a sua Vida.
Maria Palmira casou a 15 de Abril de 1928 com Roberto Augusto Carmelo Alcaide (9/8/1903-27/7/1979), então empregado de comércio, filho do capitão de cavalaria, Roberto Maria Alcaide, do Alandroal e de Maria das Pedras Alvas Gomes Carmelo, de Estremoz. O noivo era irmão de Tomaz de Aquino Carmelo Alcaide (16/02/1901-9/11/1967), tenor lírico de projecção internacional e viria a estabelecer-se por conta própria com um armazém de tabacos no Largo General Graça. Autodidacta, revelar-se-ia um excelente pintor, caricaturista, maquetista, cenógrafo e dramaturgo.

A obra poética
Maria Palmira foi colaboradora assídua do semanário estremocense Brados do Alentejo na secção Musa Alentejana, bem como da revista católica Stela, onde publicou poesia sob o pseudónimo Maria de Santa Isabel.
Nos anos 40-50 do séc. XX desenvolveu em conjunto com o seu marido, intensa actividade cultural no Orfeão de Estremoz Tomaz Alcaide, de quem o seu cunhado era patrono. São dessa época, as peças de teatro musicado “Chitas e buréis”, “S.O.S”, “Feitiço de Ilusão”, “Terra de Folia”, que foram objecto de intercâmbio com grupos corais do Alentejo, Beiras e Algarve. O casal cooperou, de resto, em inúmeras actividades associativas e realizações populares como marchas e ranchos que deram animação à cidade.
A bibliografia poética de Maria de Santa Isabel inclui: FLOR DE ESTEVA (1948), SOLIDÃO MAIOR (1957), TERRA ARDENTE (1961), FRONTEIRA DE BRUMA (1997), POESIA INÉDITA (A editar).
De Maria de Santa Isabel nos fala Urbano Tavares Rodrigues na Obra “O ALENTEJO – ANTOLOGIA DA TERRA PORTUGUESA”: “Tanto em Mário Beirão, como na sua discípula Maria de Santa Isabel (“Flor de Esteva”, “Terra Ardente”, 1951, “Solidão Maior”, 1957), delicadamente receptiva à paisagem — “Solidão Maior”, o seu último livro e o menos retórico, é um valioso documento de sensibilidade alentejana, vibrante, magoada e desolada como essa mesma terra com que visceralmente ela se identifica — vizinham os motivos alentejanos e espanhóis: as fuscas azinheiras, “o cilício doirado dos restolhos”, a par dos austeros pragais castelhanos e estremenhos e da passional alacridade anda­luza, explosiva e odorante.”
No jornal Brados do Alentejo de 1 de Fevereiro de 1992, é dada notícia do falecimento de Maria de Santa Isabel e ao que julgo pela pena de Joaquim Vermelho, o único membro da redacção que privara com ela e conhecia bem a sua Obra. Aí é caracterizada a sua poesia nestes termos: “Todo o seu trabalho deixa transparecer o seu amor ao Alentejo, porque mesmo o que se nos apresenta mais marcadamente intimista e pessoal, denuncia a sua alma alentejana, o clima e ambiente onde cresceu; esta paisagem dramática; esta natureza agreste mas cativante, onde tudo tem um ar sério e grave”.

Homenagem Póstuma
No dia 16 de Abril de 1994, Maria de Santa Isabel, foi alvo de uma Homenagem Póstuma, promovida pela Câmara Municipal de Estremoz e pelo Orfeão de Estremoz Tomaz Alcaide. A cerimónia, presidida pelo então Presidente do Município, José do Nascimento Dias Sena, incluiu múltiplos actos: - Na Biblioteca Municipal inauguração da Exposição Documental e Fotográfica sobre a Obra da Homenageada; - No Salão Nobre dos Paços do Concelho, conferência do escritor António Manuel Couto Viana, que falou sobre a Obra Poética da Homenageada, com declamação de poemas a cargo da declamadora Maria Germana Tanger; - Descerramento de uma lápide invocadora na fachada da Casa da Horta Primeira, onde nasceu, viveu e faleceu a poetisa; - Missa de Sufrágio na Igreja de São Francisco.

A ausência na Toponímia
Maria de Santa Isabel morou sempre na chamada “Rua da Levada / Rua Narciso Ribeiro”, cuja denominação resultou de o seu subsolo ser atravessado por uma conduta de água que parte do Lago do Gadanha e que depois de atravessar as hortas, vai desaguar no chamado “Ribeiro da Vila”. Actualmente toda a cidade é atravessada por condutas de água, pelo que o topónimo perdeu a importância de outrora e carece presentemente de significado. Tal facto constitui razão suficiente para alteração, conforme prevê o Regulamento de Toponímia e Numeração de Polícia do Concelho de Estremoz.
Maria de Santa Isabel foi uma individualidade de relevo, não só a nível concelhio, como também nacional, pelas suas elevadas qualidades humanas, cívicas, culturais e sociais, que são princípios a ter em conta na atribuição e alteração de topónimos, conforme estipula aquele Regulamento.
Face ao exposto e nas condições do Artigo 21.º da referida Regulamentação, o signatário propõe à Câmara Municipal de Estremoz a alteração do topónimo “Rua da Levada / Rua Narciso Ribeiro” para “Rua Maria de Santa Isabel” e, por arrastamento, a alteração do topónimo “Travessa da Levada” para “Travessa Maria de Santa Isabel”. Ao fazê-lo, o signatário tem plena consciência de interpretar uma justa aspiração de familiares, amigos e admiradores, que dela sentem uma enorme saudade e que entendem ser esta a via mais adequada de perpetuar a sua Memória, indiscutivelmente justificada pela sua Vida e Obra.

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