quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Salvemos a olaria! - I


OLEIRO DE ESTREMOZ – Fotografia obtida nos anos 40 do séc. XX, pelo fotógrafo
Artur Pastor (1922-1999), natural de Alter do Chão.

A olaria é uma das mais antigas, se não a mais antiga das artes populares. A olaria estremocense é das mais ricas do mundo, pela variedade morfológica das suas peças e pela diversidade e riqueza da sua decoração. É uma das expressões mais elevadas da nossa identidade cultural local.

Referências histórico-literárias
As referências mais antigas à olaria estremocense remontam aos forais de D. Afonso III (1258) e de D. Manuel I (1512). Daqui para diante as referências histórico - literárias aos barros de Estremoz são múltiplas: António Caetano de Sousa (1543), Giovanni Battista Venturini (1571), Francisco de Morais (1572), Inventário de D. Joana (irmã de Filipe II), correspondência de Filipe II, Padre Carvalho (1708), Francisco da Fonseca Henriques (1726), João Baptista de Castro (1745), Duarte Nunes de Leão (1785), D. Francisco Manuel de Melo, Alexandre Brongniart (1854), Carolina Michaëlis de Vasconcellos (1925) e Hernâni Matos (2013).
Os barros de Estremoz têm sido cantados pelos nossos poetas: Camões, Gil Vicente, António de Vilas Boas e Sampaio, António Sardinha, Celestino David, Maria de Santa Isabel, Guilhermina Avelar e António Simões. Mas não só os poetas eruditos têm tomado a olaria como tema de composições. Também ao longo dos anos, os nossos poetas populares têm feito quadras e décimas que integram o valioso cancioneiro popular alentejano.

Uma tragédia cultural
Estremoz chegou a ter dezenas de oleiros. Na década de 60 do séc. XX apenas restavam duas oficinas: - A Olaria Alfacinha fundada em 1868 por Caetano Augusto da Conceição e que esteve na posse da família até 1987, ano em que é vendida, sendo extinta definitivamente em 1995; - A OLARIA REGIONAL, de fundação mais recente, foi propriedade de José Ourelo, que a transmitiu a Mário Lagartinho, o último oleiro de Estremoz, que morreu recentemente sem deixar continuadores, o que constituiu uma tragédia cultural, numa cidade que já foi um dos maiores centros oleiros do Alto Alentejo.

Não à extinção da olaria!
Quase sempre a transmissão de saberes oleiros foram transmitidos de pais para filhos e aprendizes. A interrupção desta cadeia é sempre uma tragédia e a olaria estremocense corre o risco de extinção. A preservação da nossa memória colectiva e dos saberes tradicionais exige da parte da comunidade local, um esforço para que tal não aconteça. Não basta a nossa olaria estar musealizada. É preciso que esteja viva.
Está em curso uma Candidatura do Figurado de Estremoz a Património Cultural da Humanidade, na qual a comunidade local se revê e que tudo indica sairá vencedora. Não faz sentido que paralelamente se deixe extinguir a olaria local, a outra componente da nossa barrística. Temos que dar as mãos e unirmo-nos, para que tal não aconteça.

Que fazer?
Vou sugerir uma estratégia, que eventualmente pode não ser única, mas que me parece ser viável:
1 – Fomento do gosto pela olaria nas escolas, tanto do ensino preparatório como do ensino secundário;
2 – Criação em Estremoz pelo IEFP de um curso de olaria;
3 – Acolhimento desse curso, sem encargos para ninguém, por parte da Escola Secundária da Rainha Santa Isabel;
4 – Apoio material pelo IEFP aos formandos desempregados ou à procura do primeiro emprego, no sentido de constituição de uma empresa, eventualmente do tipo cooperativo; 
5 - Cedência pelo Município de Estremoz de um local para a empresa funcionar, o qual poderia ser o de uma antiga olaria, a ser adquirida pelo Município;
6 - Cedência pelo Município de Estremoz de um espaço no Rossio Marquês de Pombal para instalar um stand para comercialização de peças;
7 – Apoio do Município de Estremoz no marketing da olaria.
O desafio está lançado. Quem dá o pontapé de saída?

POLIDEIRA DE ESTREMOZ – Fotografia obtida nos anos 40 do séc. XX, pelo fotógrafo
Artur Pastor (1922-1999), natural de Alter do Chão.

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