domingo, 19 de julho de 2015

30 - São João Baptista, Precursor, Profeta e Mártir


São João Baptista. Maria Luísa da Conceição (1934-2015). Colecção particular.

São João Baptista (2 a.C. - 27 d.C.) foi um pregador judaico do início do século I, citado pelo historiador Flávio Josefo (37 ou 38 - ca. 100) e pelos autores dos quatro Evangelhos da Bíblia (Mateus, Marcos. Lucas e João). Era filho do sacerdote judaico Zacarias e de Isabel, prima de Maria, mãe de Jesus.
João, que em hebraico se diz Iohanan, com o significado de “Favorecido de Deus”, veio à luz em idade avançada de seus pais (Lucas 1,36). Muito jovem retirou-se para o deserto. Chamava-se "Baptista" devido a pregar um baptismo de penitência (Lucas 3,3). Quando estava a baptizar crentes no rio Jordão, apareceu Jesus, que também se apresentou para se baptizar. Logo o reconheceu apelidando-O, de “Cordeiro de Deus”, o Messias anunciado pelos profetas. Introduziu o baptismo como cerimónia que mais tarde seria adoptada pelo Cristianismo como prática na conversão de gentios, rito entendido como purificação e vida nova, constituindo o primeiro sacramento da iniciação cristã.
Censurou Herodes Antipas (20 a.C. – 39 d.C.), governador da Galileia, por ter cometido adultério ao casar-se com Herodíade, sua sobrinha e cunhada, cujo marido ainda estava vivo. Na sequência da sua prisão, as suas imprecações incomodaram Herodíade, que através da sua filha Salomé, induziu Herodes a mandá-lo degolar. É considerado o primeiro mártir do Cristianismo.
É o único santo cujo nascimento (24 de Junho) e martírio (29 de Agosto) são evocados em duas solenidades cristãs. É correntemente representado como um adulto ascético, vestido de pele de carneiro, com um cordeiro e um estandarte com a legenda “Ecce Homo”. É padroeiro das cidades do Porto e de Braga, onde é festejado com alegria pelo povo, de 23 para 24 de Junho. Trata-se de uma festa com origem no solstício de Junho e que inicialmente se tratava de uma festa pagã, na qual as pessoas festejavam a fertilidade, associada à alegria das colheitas e da abundância. Como tal é uma festa repleta de tradições, como a utilização dos alhos-porros (símbolos fálicos da fertilidade masculina) para bater nas cabeças de quem vai a passar, assim como de ramos de cidreira (símbolo dos pelos púbicos femininos), usados pelas mulheres para pôr na cara dos homens que passam. A Igreja viria a cristianizar essa festa pagã e atribuiu-lhe São João como Padroeiro.
São João Baptista está presente na nossa literatura de tradição oral. A nível de adagiário destacamos: “Ande por onde andar o Verão, há-de vir pelo São João”, “Pelo São João, ceifa o pão”, “Lavra pelo São João: terás palha e grão”, “A chuva de São João bebe o vinho e come o pão”, “Pelo São João deve o milho cobrir o cão”, “Pelo São João semeia o teu feijão”, “Pelo São João, figo na mão”, “Galinhas de São João, pelo Natal, ovos dão”, “Tem o porco meão pelo São João”, “Sardinha de São João pinga no pão”. No que respeita ao cancioneiro popular alentejano, salientamos duas quadras brejeiras. Uma: “Onde está o Baptista, / Elle não está na egreja, / Anda de mastro em mastro, / Para vêr quem no festeja.” E esta outra: “Lá vem o Baptista abaixo / Subindo aquellas ladeiras, / Dando abraços ás viúvas / E beijinhos às solteiras.”
 
Hernâni Matos
Publicado inicialmente a 19 de Julho de 2015

3 comentários:

  1. Excelente texto sobre S.João Baptista,muito explícito e sucinto.

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  2. Congratulo-me pela receptividade que o texto obteve. Faço votos para que possa continuar a ser merecedor do interesse manifestado.

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  3. Antes de mais, dou-lhe os parabéns pelo seu blog, que sigo sempre com o maior interesse.

    O que me traz aqui é a afirmação que faz de que S. João Baptista é padroeiro da cidade do Porto. Na verdade, não é tal, apesar de o seu dia ser feriado municipal. É de facto curioso que S. Joáo Baptista, que é tão festejado no Porto, não seja padroeiro da cidade.

    Durante muitos anos, o padroeiro do Porto foi S. Pantaleão (!), um santo cujos restos mortais foram trazidos de barco para o Porto por um grupo de arménios fugidos ao Império Otomano. Estes restos mortais estão, salvo erro, na igreja de Miragaia (no centro histórico do Porto), muito perto da estreitíssima rua onde os arménios ficaram a viver e que ainda hoje se chama Rua da Arménia.

    Como já ninguém no Porto tinha particular devoção pelo arménio S. Pantaleão, em 1981 decidiu-se mudar de padroeiro para a cidade. Seria de esperar que este novo padroeiro fosse S. João, mas não. É Nossa Senhora da Vandoma, que é uma imagem muito antiga que está na Sé Catedral do Porto e que figura desde há séculos nas próprias armas da cidade. Na Wikipedia existe uma página a ela dedicada, que me parece estar correcta e para a qual peço a sua atenção. Está no endereço https://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_de_Vandoma

    Portanto, S. João não é, nem nunca foi, padroeiro do Porto. Como diria Fernando Pessa: «E esta, hem?»

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