quinta-feira, 14 de novembro de 2013

As Pupilas do Senhor Reitor

Uma das 30 ilustrações de Mestre Alfredo Roque Gameiro (1864 - 1935)
para “As Pupilas do Senhor Reitor”,  de Júlio Diniz (1839-1871).

                                                                                  Na passagem do aniversário                                                                  do nascimento de Júlio Dinis

Esboço biográfico de Júlio Dinis
A 14 de Novembro de 1839 nasce no Porto, na antiga Rua do Reguinho, aquele que viria a ser o médico e escritor Júlio Diniz (1839-1871), pseudónimo literário de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, criador do romance campesino e autor de obras como: As Pupilas do Senhor Reitor (1869), A Morgadinha dos Canaviais (1868), Uma Família Inglesa (1868), Serões da Província (1870), Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871), Poesias (1873), Inéditos e Dispersos (1910), Teatro Inédito (1946-1947). Além daquele pseudónimo usou também o de Diana de Aveleda, com o qual se iniciou na vida literária e subscreveu crónicas no Diário do Porto e pequenas narrativas ingénuas como “Os Novelos da Tia Filomena” (1862) e o “Espólio do Senhor Cipriano” (1863). Viria a morrer a 12 de Setembro de 1871, com 31 anos, vítima de tuberculose, numa casa da Rua Costa Cabral, no Porto. 

Breve resenha de “As Pupilas do Senhor Reitor
Trata-se de um romance de Júlio Dinis publicado em 1866, sob o formato de folhetins no “Jornal do Porto” e editado como livro em 1867. Como refere o autor nas "Notas", a obra começou a ser escrita em 1863, durante a estadia de Júlio Dinis em Ovar. O título alude às personagens femininas do romance, duas meias-irmãs órfãs, Margarida e Clara, de personalidades contrárias, adoptadas pelo Reitor. Margarida é expansiva e alegre, enquanto Clara é introvertida e reservada. O enredo gira em torno de Daniel, segundo filho do lavrador José das Dornas, que em rapaz renunciou à carreira eclesiástica por amor a Margarida. Depois de se ter licenciado em Medicina, regressa à aldeia, olvidado do seu idílio de infância. A obra apresenta uma interessante galeria de tipos rústicos, donde sobressaem o Reitor, José das Dornas e João Semana, médico rural. O livro foi escrito com simplicidade de estilo e o realismo de representação, traduzindo a vida portuguesa rural da época. De acordo com António José Saraiva e Óscar Lopes (História da Literatura Portuguesa, 12ª edição. Porto Editora. Porto, 1982), “(…) em As Pupilas do Senhor Reitor, que é o seu primeiro romance publicado (e o segundo escrito), parece haver o propósito de pregar uma moralização de costumes pela vida rural e pela influencia de um clero convertido ao liberalismo, ideia sugerida pelo Vigário de Walkefield de Goldsmith e pelo Pároco na Aldeia de Herculano.”.

Ilustrações de Roque Gameiro
As “Pupilas do Senhor Reitor” foram ilustradas a aguarela por Mestre Alfredo Roque Gameiro (1864-1935). Essas ilustrações pertencem ao acervo da Colecção do Museu de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e encontram-se em depósito no Museu de Aguarela Roque Gameiro, em Minde. No “Roteiro do Museu de Aguarela Roque Gameiro” pode-se ler:
Roque Gameiro revela na ilustração da edição da obra de Júlio Dinis cujo subtítulo é "Crónica de Aldeia", a grande capacidade que tinha de adequar as imagens ao texto e de compreender inteiramente a mensagem do escritor. Recriou a aldeia idealizada pelo escritor a partir dos ambientes rurais do Minho e do Douro. Aí fez pesquisas para localizar a área onde decorrera a acção do romance de maneira a ilustrar condizente com as descrições que o autor fazia das paisagens. Comprou utensílios e trajes usados na época para melhor os poder descrever. Todo o seu trabalho de ilustrador revela o investigador atento. Roque Gameiro tomou como modelos, para representar as personagens Clara e Margarida a filha Raquel e a sobrinha Hebe Gomes.
Numa entrevista dada ao Diário de Lisboa, Roque Gameiro contesta algumas perguntas sobre o local onde decorreu a acção das Pupilas do Sr. Reitor:
"... Convencido de que o fundo do cenário não podia ser Ovar (...), palmilhei, de recanto a recanto, o norte todo. Encontrei em Santo Tirso - onde Júlio Dinis também esteve várias vezes e onde residiu demoradamente -, a paisagem que se ajustava, com uma realidade de entusiasmar, às descrições do romance."































8 comentários:

  1. Que riqueza de imagens...Viajei agora!

    ResponderEliminar
  2. A garra cromática de Mestre Alfredo Roque Gameiro em sinestesia sincronizada com a linguagem simples de Júlio Dinis, contextualizada em ambiente rural.

    ResponderEliminar
  3. Gostei desta referência e também muito de poder ver as gravuras de mestre Roque Gameiro ! A figura de João Semana ficou para sempre na alma do povo para quem um médico dedicado que recebia galinhas em vez de dinheiro, era um deus na terra. O livro traz-nos também a figura de José do Telhado e a da Maria da Fonte... Figuras míticas da História que ainda há poucos anos eram lembrados nas aldeias!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Fernanda:
      Obrigado pelo seu comentário.
      Tratou-se dum apontamento ligeiro para assinalar uma efeméride. Mas decerto agradável, pelo seu cunho popular.

      Eliminar
  4. Que maravilha!
    Parabéns pelo fantástico trabalho de divulgação do que melhor temos na nossa cultura, e por lembrar a alguns, que somos um País de pessoas brilhantes, com muito valor e tradição.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Rui:
      Obrigado pelo seu comentário.
      Procurarei não desmerecer futuramente o interesse manifestado.
      Os meus cumprimentos.

      Eliminar
  5. É sempre um gosto ler o seu blogue.

    ResponderEliminar