quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dia Mundial da Criança


ASSOBIOS - Bonecos de Estremoz (Séc. XX). Museu Nacional de Etnologia, Lisboa.

Comemora-se hoje o Dia Mundial da Criança. Não das crianças de ontem, mas das crianças de hoje e com uma aposta forte nas crianças de amanhã.
Ser criança é brincar. A brincadeira é o trabalho da criança. É a brincar que a criança aprende a ser homem e constrói a sua personalidade.
As brincadeiras de hoje não são as brincadeiras de ontem. Não foi por acaso que escolhi apitos de barro de Estremoz, para ilustrar esta crónica. Com um apito destes podíamos imitar um pássaro, um polícia ou um árbitro. Dependia da nossa imaginação momentânea e daquilo que nos desse na real gana. Exercitávamos assim a nossa imaginação criadora e praticávamos o exercício da liberdade.
Outras brincadeiras e jogos eram colectivos: o jogo do botão, do pião, da bola, etc. Com eles, desenvolvíamos a nossa socialização e reforçávamos o espírito colectivo.
Coleccionávamos cromos da História de Portugal, das Raças Humanas, das Bandeiras do Universo, dos Trajes do Mundo. Era a nossa iniciação à leitura e à literatura, a nossa primeira abordagem à História de Portugal, a nossa partida à descoberta do mundo, de outros povos e de outros costumes.
Hoje em muitos casos não é assim. São as consolas, os jogos de vídeo, de computador e de telemóvel. Tudo envolvendo jogos que na sua esmagadora maioria foram concebidos para serem praticados individualmente, visando fomentar o individualismo e para programarem e vincularem os seus praticantes, a estereótipos de egoísmo, do salve-se quem puder, do vale tudo, da violência, do terror e do medo. É isso que interessa à sinistra alta finança mundial, que a nível global, controla os governos de cada país.
Não lhes interessa que haja cidadãos que se possam sentir homens livres, criativos, com carácter, com coragem, amantes da Paz, solidários com o próximo, com respeito pelo colectivo, que reconheçam o valor do esforço, do trabalho e do mérito. Isso para eles é subversivo. Para eles, interessa-lhes que em criança, os cidadãos sejam programados de maneira diferente.
Interessa-lhes cidadãos dóceis, submissos, governados pelo medo, obedientes, egoístas, sem respeito pelo colectivo e que aceitem acefalamente a violência e a guerra.
É preciso que os pais e educadores tenham cada vez mais consciência destes problemas e se empenhem em dar a volta a isto, para que a formação daqueles que serão os homens de amanhã, se possa efectuar sem desvios nem distorções.
Torna-se necessário retomar jogos e brincadeiras antigas, algumas das quais têm milhares de anos e adoptar outras novas, que ajudem a formar homens e mulheres de carácter, livres, verdadeiros, justos e solidários. Essa é uma revolução permanente que temos de tomar nas nossas mãos. É a nossa grande batalha pela cidadania. E havemos de vencer, porque quem não se rende, vence sempre.


Publicado pela 1.ª vez em 1 de Junho de 2001

10 comentários:

  1. Apreciando mais este singelo e magnífico trabalho, enviei, por anexo de uma mensagem, mais um desafio sobre um trabalho que há uns anos venho a desenvolver e estou a recuperar... uma lista de 31 jogos que já não sei descrever, mas há, certamente, quem, ainda saiba. Estão listados na Monografia de Vila Verde de Ficalho, de Francisco Manuel Machado, de 1980. Abraço

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  2. Vim lá do grupo Não aceito limites...do Bill,para conhecer seu blog e seguir!!Gostei da crônica e também louvo as brincadeiras antigas,sem condenar as de hoje.Meus netos brincam de um tudo e são felizes!!!É a lei do progresso!!!

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  3. Acho uma óptima ideia essa de recuperar estes jogos tradicionais, até porque as "brincadeiras" de hoje são um "caso sério".
    Um abraço

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  4. Boa tarde Hernâni,

    As crianças de hoje são " uns infelizes"!
    São infelizes não por não terem os brinquedos da moda, mas por não terem capacidade de inventar os seus próprios brinquedos. Recorda-me de quando era criança, jogavamos bastante futebol ( muda aos 5 e acaba aos 10 ) eram tardes inteiras aos fins de semana, faziamos corridas com arco, jogavamos à barra do lenço, jogavamos ao pião, etc, etc,
    Quando ia apara a aldeia nas férias faziamos tractores e reboques a partir de carros de linhas e latas de sardinha vazias, imaginavamos explorações agricolas, e dividiamos tarefas.Faziamos também o jogo da barra do lenço com 2 equipas, assim como salto ao eixo.
    Hoje fico bastante triste por eles não por mim, pois só querem PSP, mp3, hedafones, etc.
    É tão triste ver um autocarro de malta nova e ver quase todos eles com headfones na cabeça a ouvirem música, em vez de falarem uns com os outros!
    Hoje é a geração dos que compram tudo feito!

    Um abraço

    Abilio

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    1. Abílio:
      Obrigado pelo seu comentário.
      Não há dúvida, temos identidade de pontos de vista.
      Um abraço.

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  5. Sublime o seu texto, compadre Hernâni...
    Descreve exactamente tudo o que eu também penso, mas muito melhor do que eu próprio seria capaz de passar para o papel...
    Tomei a liberdade de divulgar no meu blog, espero que não me leve a mal o atrevimento... Abraço

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    1. João:
      Obrigado pelo seu comentário.
      Obrigado pela divulgação.
      Um abraço.

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  6. E isso.
    Obrigado pela ajuda.
    Vou encaminhar a sua crónica para os pais dos meus netos.

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