quinta-feira, 4 de março de 2010

Alguns aspectos da olaria


Mário Lagartinho,o último oleiro de Estremoz.

A olaria é a arte de trabalhar o barro – rocha metamórfica resultante da decomposição das rochas feldspáticas, por acção de fenómenos de desnudação e erosão, devidos aos agentes atmosféricos (água e vento), bem como devido à acção química do dióxido de carbono dissolvido na água.
Quimicamente, o barro é um silicato duplo de alumínio, mais ou menos hidratado, contendo por vezes impurezas provenientes das rochas primitivas (mica, quartzo, carbonato de cálcio, silicato de ferro ou magnésio) que o colore.
O barro possui um certo número de propriedades características, a mais importante das quais é a plasticidade que lhe é comunicada pela água com a qual é misturado. Em segundo lugar, a coesão e o endurecimento provocado pela secagem. Finalmente, a perda de plasticidade obtida através da cozedura.
Estas propriedades terão sido acidentalmente descobertas pelo homem primitivo, o qual começou a manufacturar peças de olaria, visando a obtenção de recipientes para o transporte de água e a cozedura de alimentos.
O Alto Alentejo tem inúmeros centros oleiros dos quais os mais importantes são: Redondo, S. Pedro do Corval, Reguengos de Monsaraz, Estremoz, Flor da Rosa, Nisa e Portalegre.
Por aqui viveram durante largas centenas de anos, romanos, visigodos e árabes, que nos legaram valores de que ainda hoje nos servimos, como é o caso das peças de olaria, que reproduzem fielmente peças mais antigas, as quais são na sua maioria de origem romana (talha, infusa, cangirão, tina, copo, etc.), grega (cântara, bilha, panela, etc.), árabe (alguidar, alcatruz, fogareiro, etc.). Já o cantil é originário da Ásia Menor e o moringue da América.
No caso que mais nos interessa – Estremoz – a referência mais antiga aos barros de Estremoz remonta ao foral de D. Afonso III, datado de 1258, seguindo-se-lhe o foral de D. Manuel I, de 1512. Daqui para diante as referências histórico - literárias aos barros de Estremoz são múltiplas: António Caetano de Sousa (1543), Giovanni Battista Venturini (1571), Francisco de Morais (1572), Inventário de D. Joana (irmã de Filipe II), correspondência de Filipe II, Padre Carvalho (1708), Francisco da Fonseca Henriques (1726), João Baptista de Castro (1745), Duarte Nunes de Leão (1785), D. Francisco Manuel de Melo, Alexandre Brongniart (1854), Carolina Michaëlis de Vasconcellos (1925).
Os barros de Estremoz têm sido cantados pelos nossos poetas: Camões, Gil Vicente, António de Vilas Boas e Sampaio, António Sardinha, Celestino David, Maria de Santa Isabel, Guilhermina Avelar e António Simões. Mas não só os poetas eruditos têm tomado a olaria como tema de composições. Também ao longo dos anos, os nossos poetas populares têm feito quadras e décimas que integram o valioso cancioneiro popular alentejano.
A olaria é uma das mais antigas, se não a mais antiga das artes populares. A olaria alentejana é uma das mais ricas do mundo, como igualmente ricos são os seus aspectos etnográficos (preparação do barro, fabrico, cozedura, venda e utilização das peças de olaria).

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