segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Poesia Portuguesa - 030


Sátira aos Penteados Altos
Nicolau Tolentino (1740-1811)

Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
- “Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...”

- “Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?” E, dizendo isto,

Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...

Nicolau Tolentino (1740-1811)

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